terça-feira, 29 de novembro de 2011
quinta-feira, 14 de julho de 2011
De quê adianta escrever ficção em um universo com seu próprio senso de humor?
Histórias verídicas
1) Ladrão russo invade salão de beleza, apanha da dona faixa-preta e é mantido como escravo sexual por três dias, alimentado apenas com viagra.
2) Americano recebe fechada no trânsito, mostra o dedo pro outro motorista e leva quatro tiros na cabeça. Sobrevive com sequelas e deformado como um Klingon. A filha, no banco de trás, escapou ilesa. O que ela faz? Processa o pai por estar "permanentemente traumatizada" com o evento, dizendo que a culpa é dele.
3) Gaúcho suspeita que esposa anda pulando a cerca. Pega o poodle de estimação e bate na mulher com ele. Poodle morre. Lição: se for trair seu marido, tenha um rottweiler.
terça-feira, 12 de julho de 2011
Nada mais genial que Ricardo Reis discutindo a poesia de Álvaro de Campos
Um poema é a projeção de uma idéia em palavras através da emoção. A emoção não é a base da poesia: é tão-somente o meio de que a idéia se serve para se reduzir a palavras. Não vejo, entre a poesia e a prosa, a diferença fundamental, peculiar da própria disposição da mente, que Campos estabelece. Desde que se usa de palavras, usa-se de um instrumento ao mesmo tempo emotivo e intelectual. A palavra contém uma idéia e uma emoção. Por isso não há prosa, nem a mais rigidamente científica, que não ressume qualquer suco emotivo. Por isso não há exclamação, nem a mais abstratamente emotiva, que não implique, ao menos, o esboço de uma idéia. Poderá alegar-se, por exemplo, que a exclamação pura - "Ah", digamos- não contém elemento algum intelectual. Mas não existe um "ah", assim escrito isoladamente, sem relação com qualquer coisa do anterior. Ou consideramos o "ah" como falado e no tom da voz vai o sentimento que a anima, e portanto a idéia ligada à definição desse sentimento; ou o "ah" responde a qualquer frase, ou por ela se firma, e manifesta uma idéia que essa frase provocou. Em tudo que se diz poesia ou prosa - há idéia e emoção.
A poesia difere da prosa apenas em que escolhe um novo meio exterior, além da palavra, para projetar a idéia em palavras através da emoção. Esse meio é o ritmo, a rima, a estrofe; ou todas, ou duas, ou uma só. Porém menos que uma só não creio que possa ser. A idéia, ao servir-se da emoção para se exprimir em palavra contorna e define essa emoção, e o ritmo, ou a rima, ou estrofe, são a projeção desse contorno, a afirmação da idéia através de uma emoção, que, se a idéia a não contornasse, se extravasaria e perderia a própria capacidade de expressão. É o que, em meu entender, sucede nos poemas de Campos. São um extravasar de emoção. A idéia serve a emoção, não a domina. E o homem - poeta ou não poeta - em quem a emoção domina a inteligência recua a feição do seu ser a estágios anteriores da evolução, em que as faculdade de inibição dormiam ainda no embrião da mente. Não pode ser que a arte que é um produto da cultura, ou seja do desenvolvimento supremo da consciência que o homem tem de si mesmo, seja tanto mais superior, quanto maior for a sua semelhança com as manifestações mentais que distinguem os estados inferiores da evolução cerebral.
A poesia é superior à prosa pois que exprime, não um grau superior de emoção, mas, por contra, um grau superior do domínio dela, a subordinação do tumulto em que a emoção naturalmente se exprimiria (como verdadeiramente diz Campos) ao ritmo, à rima, à estrofe. Como o estado mental, em que a poesia se forma, é, deveras, mais emotivo que aquele em que naturalmente se forma prosa, há mister que ao estado poético se aplique uma disciplina mais dura que aquela [que] se emprega no estado prosaico da mente. E esses artifícios - o ritmo, a rima a estrofe - são instrumentos de tal disciplina. No sentido em que Campos diz que são artifícios o ritmo, a rima e a estrofe, se pode dizer que são artifícios: a vontade que corrige defeitos, a ordem que policia sociedades, a civilização que reduz os egoísmos à forma sociável. Na prosa mais propriamente prosa - a prosa científica ou filosófica , a que exprime diretamente idéias e só idéias, ato há mister de grande disciplina, pois na própria circunstância de ser só de idéias vai disciplina bastante. Na prosa mais largamente emotiva, como a que distingue a oratória, ou tem feição descritiva, há que atender mais ao ritmo, à disposição, à organização das idéias, pois essas são ali em menor número, nem formam o fundamento da matéria. Na prosa amplamente emotiva - aquela cujos sentimentos poderiam com igual facilidade ser expostos em poesia - há que atender mais que nunca à disposição da matéria, e ao ritmo que acompanhe a exposição. Esse ritmo não é definido, como o é no verso, porque a prosa não é verso.
O que verdadeiramente Campos faz, quando escreve em verso, é escrever prosa ritmada com pausas maiores marcadas em certos pontos, para fins rítmicos, e esses pontos de pausa maior, determina-o a ele pelos fins dos versos. Campos é um grande prosador, um prosador com uma grande ciência do ritmo; mas o ritmo de que tem ciência, é o ritmo da prosa, e a prosa de que se serve é aquela em que se introduziu, além dos vulgares sinais de pontuação. Uma pausa maior e especial, que Campos, como os seus pares anteriores e semelhantes, determinou representar graficamente pela linha quebrada no fim, pela linha disposta como o que se chama um verso. Se Campos, em vez de fazer tal, inventasse um sinal novo de pontuação - digamos o traço vertical (|) para determinar esta ordens de pausa, ficando nós sabendo que ali se pausava com o mesmo gênero de pausa com que se pausa no fim de um verso, não faria obra diferente, nem estabeleceria a confusão que estabeleceu.
A disciplina é natural ou artificial, espontânea ou refletida, O que distingue a arte clássica, propriamente dita, a dos gregos e até dos romanos, da arte pseudoclássica, como a dos franceses em seus séculos de fixação. é que a disciplina de uma está nas mesmas emoções, com uma harmonia natural da alma, que naturalmente repele o excessivo, ainda ao senti-lo; e a disciplina da outra está em uma deliberação da mente de não se deixar sentir para cima de certo nível. A arte pseudoclássica é fria porque é uma regra; a clássica tens emoção porque é uma harmonia.
Quase se conclui do que diz Campos, de que o poeta vulgar sente espontaneamente com a largueza que naturalmente projetaria em versos como os que ele escreve; e depois, refletindo, sujeita essa emoção a cortes e retoques e outras mutilações ou alterações, em obediência a uma regra exterior. Nenhum homem foi alguma vez poeta assim. A disciplina do ritmo é aprendida até ficar sendo uma parte da alma: o verso que a emoção produz nasce já subordinado a essa disciplina. Uma emoção naturalmente harmônica é uma emoção naturalmente ordenada; uma emoção naturalmente ordenada é uma emoção naturalmente traduzida num ritmo ordenado, pois a emoção dá o ritmo e a ordem que há nela, a ordem que no ritmo há.
Na palavra, a inteligência dá a frase, a emoção o ritmo. Quando o pensamento do poeta é alto, isto é, formado duma idéia que produz uma emoção, esse pensamento, já de si harmônico pela junção equilibrada de idéia e emoção, e pela nobreza de ambas, transmite esse equilíbrio de emoção e de sentimento à frase e ao ritmo, e assim, como disse, a frase, súdita do pensamento que a define, busca-o, e o ritmo, escravo da emoção que esse pensamento agregou a si, o serve.
Ricardo Reis
segunda-feira, 11 de julho de 2011
Macaco Datilógrafo Convida:
Queridos sobreviventes que ainda passam pro essas bandas,
Estão todos convidados, legais que são e de distinto bom gosto, a virem tomar champagne supostamente francês no lançamento de Como Nascem os Pais. Vai ser na Livraria da Vila, dia 10 de agosto, com a presença de convidados ilustres, macacos datilógrafos, estrelas ninja e até autógrafos de Lucia. Aliás os pretendentes da Lucia estão especialmente convidados, tem um caixote com os dizeres "destino:Zimbábue" esperando por eles, digo, uma ala de recreação infantil.
Esse aqui é o convite:
E esse aqui também é o convite, só que na versão Facebook:
http://www.facebook.com/event.php?eid=172972799430041
quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011
Um menino aprende a tocar piano.
Um filme em 3d. Simples. Estranho. Louco. Twisted. Sick. Genial.
Recomendo ir no Vimeo e assistir em HD.
http://vimeo.com/19723116
segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011
you can all just kiss off into the air
A imagem vi no blog da Tati Rezende e a música nunca saiu verdadeiramente da minha cabeça nos últimos, cof cof, vinte anos.
quarta-feira, 3 de novembro de 2010
sexta-feira, 9 de abril de 2010
O grave jardim.
Em um imenso e estranho jardim, na vigésima terceira quadra, existe um buraco que atravessa a alma dos vivos.
Esse não é o jardim do Destino, nem do Sonho, mas não é certo quais outros Eternos transitam ali. Temo que todos eles talvez.
Não era um domingo, libélulas bebiam água escura como leite da madrugada. Damselflies ou Dragonflies, cuja vida encerra-se em vinte e quatro horas, às vezes em vinte e três.
Não há sinos que dobrem o suficiente, nem véus, nem lenços, nem pegadas nem a multidão que grita em herméticos silêncios.
Um verde tão extenso, cobrindo inimagináveis ruínas; ao levantar os olhos encharcados às vezes é possível notar a imensa arqueologia de seus subterrâneos e uma estrada de tijolos, nada dourados e sim de bronze, milhares e certamente manchados de lágrimas de diversos tons.
Baixando os olhos mais uma vez, peito atravessado por uma lança de comprimento infinito, levanto e saio andando em busca de ar, atravessando uma nuvem de libélulas, abismado pelo fato de que, em seu único dia sobre a terra, sejam alheias à tamanha tristeza ao seu redor.
@10:30 0 intromissões tags:escritos
terça-feira, 30 de março de 2010
Amor melancólico e cibernético
Uma história de amor e robôs, dirigida pelo Spike Jonze e com patrocínio da vodca Absolut. Achei o filme triste e melancólico, a trilha sublime e o final algo esquisito. Sendo eu, não poderia não gostar. Nem por isso vou largar minha Stolichnaya. Mas recomendo o filme.
terça-feira, 16 de março de 2010
Lacrimejantes
As lágrimas podem ser colocadas em vidrinhos e transformadas em grandes coleções, uma imensidão de sabores-memórias, que trazem tudo de volta ao serem delicadamente colocadas, via conta-gotas, na ponta da língua, criando assim lágrimas de segunda geração, que vão para uma coleção à parte, afinal recordar é viver. Como não são coletadas no vácuo, cada lágrima é temperada com os arredores de sua produção. As lágrimas de escritório tem aquela mistura de divisória e pipoca de microondas, perceptíveis até em teste duplo-cego. As de casa tem traços de poliéster e estofamento. Os gourmets sabem: nada como uma lágrima ao ar-livre, com bouquet de clorofila e temperatura de sol. Essas valem tanto quanto trufas brancas. Exceto, é claro, quando suas origens forem insossas como um cisco no olho - nesse caso não valem nem o custo do vidrinho e da rolha
@11:30 3 intromissões tags:escritos
quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010
Não que eu tenha qualquer relação com isso, já que nunca jamais fiz isso antes, mas mesmo assim gosto do tema. e nunca fiz isso.
sexta-feira, 29 de janeiro de 2010
O Neural não está morto, juro. Está vivo como um Urso Dágua, ou mais exatamente, em coma como Kenny, o tomate.
Não, este blog não morreu. Está talvez em coma mas me recuso a puxar a tomada, já que há vestígios de atividade cerebral. Posso acabar tropeçando na tomada, pode ter apagão, mas fora isso me recuso a decretá-lo morto.
O Neural é como um tardígrado, ou urso dágua, um poliextremófilo capaz de sobreviver a temperaturas entre -273°C e 151 °C, anos sem água, mil vezes mais radiação que qualquer outro animal e não apenas sobrevive ao vácuo do espaço como se reproduz lá. Pode ser encontrado em todos os ambientes do planeta terra e em seu estado desidratado sobrevive por décadas e resiste ao nitrogênio líquido, ácidos minerais, solventes orgânicos, radiação e água fervendo. Depois de tudo isso, com apenas uma gota de água, o minúsculo desgraçado volta à vida.
Porque então, perguntará o leitor, este maldito blog tardígrado não volta à vida?
sexta-feira, 6 de novembro de 2009
quarta-feira, 16 de setembro de 2009
quinta-feira, 6 de agosto de 2009
Um verdadeiro cara-de-pau esse
Um curta muito legal e estranho, dirigido e animado pelo Bartok, suposto descendente de Bella Bartok.
Acho que talvez exista alguma possibilidade de hipoteticamente alguém extrair um sentindo muito profundo de tudo isso, but I´m not really sure.
@12:26 0 intromissões tags:animation
terça-feira, 4 de agosto de 2009
segunda-feira, 3 de agosto de 2009
Você acha que sexo anal dói? Experimente ter um filho
segunda-feira, 27 de julho de 2009
quarta-feira, 22 de julho de 2009
Se você quer muito, deve estar fora do seu alcance
O grande camarada Domênico, em seu blog feito à unha no notepad, teve um insight que em sua simplicidade não é nada menos que genial:
"quanto maior o desejo que sentimos por algo, maior a distância até o mesmo."
Agora pode ir ler o texto todo,
é o post entitulado "QUEM",
em http://www.domenicomassareto.com.br/
terça-feira, 23 de junho de 2009
Eugene e Gregor
Eugene acordou e não sabia onde estava. Abriu os olhos e tudo estava branco. Abriu as antenas, metaforicamente, claro, e tudo cheirava a branco. Tentou se mexer e viu suas patas, dando-se conta que ainda tinha seu corpo. Mas onde estava? Tudo era tão branco que Eugene foi tomado de vertigem. Seu corpo amoleceu, também metaforicamente, afinal estamos falando aqui de um ser com exoesqueleto. Eugene largou-se tentando perceber a passagem do tempo mas esta não dava qualquer tipo de sinal externo e ele perdeu-se em sensações subjetivas, sem saber se teria passado uma hora, um dia, um ano.
Eugene lembrou-se que um dia, um ano, uma vida atrás, ouviu uma historia sobre um filme chamado "Feitiço do Tempo", em o cara tem que viver o mesmo dia todo dia até aprender umas coisas e o feitiço, ou maldição, se desfaz. Mas a história mesmo é que o ator do filme queria algo mais filosófico e escuro, e que em sua versão o protagonista passa nada menos que dez mil anos vivendo o mesmo idêntico dia. Eugene se deu conta que não tinha como ter idéia de quanto tempo passou ali, ou quanto tempo iria passar.
Quase que por hábito começa a andar. Costumava pensar melhor andando e o som dos seus vários passos, como um metrônomo, era uma forma de contabilizar o tempo, mas entre três e quatro mil acabava distraindo-se e perdia a conta. Ainda assim continuava a andar. Tinha medo de petrificar-se caso parasse, como ficava ansioso com o silêncio que seus passos preenchiam. Ele alternava o ritmo das patinhas, sem nunca começar a dançar, seu tipity-tapity não seria apropriado ali.
E depois de sabe-se lá quanto tempo, parecia muito, obstante ausência de montras, sentiu irrefreável necessidade de conversar. Arrancou um pedaço redondo de sua asinha, fez dois furos e segurou-a à sua frente com a antena, dizendo pra si mesmo que se o Robinson Crusoe tinha um Sexta-feira (não tinha), e o Náufrago tinha um Wilson, ele poderia ter alguém. Olhou bem para a cara de sonso do pedaço de asa e disse: vou chamá-lo de Gregor.
Gregor era um tanto calado mas ótimo ouvinte. Escutou com paciência a todas as histórias de Eugene, descobrindo que ele foi uma das primeiras baratas mutantes, que chegou a conhecer os seres humanos, que acreditava que alguns deles ainda estariam em sua pequena biosfera em órbita, que praticamente escolheu o vício em cigarros de osso como uma arma contra o tédio, e que daria uma patinha por um desses agora. Falou sobre as músicas que gostava, cantou, analisou as letras, disse que gostava da serendipidade de ouvir rádio e cantou músicas aleatórias, com direito a encenações de intervalos comerciais e vinhetas. Eugene cansou depois de um tempo e prossguiu em silêncio.
Um belo "dia", ou "noite", mesmo "momento" é uma palavra difícil de aplicar aqui, encontrou um rastro de patas. Exaltado, começou a gritar e chamar, sem resposta alguma. Era a primeira coisa que não fosse branca ou ele mesmo que via em, sabe-se lá, anos. Começou a seguir o rastro de pegadinhas pretas e tinha impressão que Gregor fazia caretas.
@11:10 0 intromissões tags:escritos,eugene
terça-feira, 9 de junho de 2009
Cachaça em: "Nova demais para o caderninho?"
Após longa ausência, Cachaça reaparece a visitar seu amigo, o Judeu. Uma pequena e recém-acordada bebezinha de oito meses, ao perceber uma inesperada movimentação na casa, abre-se em lágrimas - provocando silenciosa indignação no Cachaça, que se sente desamado pela infante. Revoltado e disposto a reciprocar o gesto, passa a fazer horríveis caretas e esgares, fazendo que a bebê chore novamente, agora sim com verdadeiro e indefeso pavor, precisando de muitos minutos no colo do pai para voltar a se sentir minimamente segura.
Cachaça pede para ligar a TV e sintoniza um canal de comentário esportivo, onde velhos obesos expressam em cadeia nacional suas auto-importante opiniões sobre times e atletas. O Judeu pede para o Cachaça tomar conta da pequenina, já refeita da desfeita (incríveis as crianças pequenas, que não guardam mágoa), para que possa preparar a tal papinha infantil. Cachaça estica uma das mãos na direção da bebê, mantém os olhos fixos na tv e dela não descuida, apesar de suas poucas oportunidades de apreciar o não tão raro mas para ele inédito espetáculo da alimentação infantil.
Tendo sido alimentada, a bebê inicia o processo inverso e precisa ter sua fralda trocada. Em meio à operação o Judeu solicita que o Cachaça deixe a TV por um momento e venha ajudá-lo, impedindo que a bebê role e caia do trocador, enquanto o pai procura uma roupinha limpa para sua cristalina princesa. Assim que se aproxima da cabeça da bebê e inicia sua vigília, o sujeito de nome de bebida alcoólica solta o mais desavergonhado peido da história, um horroroso som prolongado e úmido, seguido de estridente gargalhada. Para quem não conhece, tal gargalhada pode ser apenas descrita como uma pessoa arranhando um quadro negro com suas unhas e tendo um sincopado ataque epilético durante o processo.
Expulso do quarto cor-de-rosa que acabara de empestear sordidamente com seus ventos fecais, o Cachaça volta aliviado para o programa de TV, um especial mostrando bolas na trave ocorridas em partidas de ano bissexto. Aproveitando uma pausa no programa, o Cachaça responde à questões morais do Judeu, pontificando sobre gestos como representantes do intrínseco de cada ser humano. Encarnando misteriosamente um guru que trouxe apenas doçura e sentimentos bons à todas as vidas que tocou, saudosas e iluminadas por sua passagem, o Cachaça convence o Judeu que no caso em questão não basta sofrer privadamente, é necessário prestar solidariedade aos outros que sofrem. O Cachaça é uma famoso abraçador dos recém-enlutados - segundo complexo ritual de dizer-se a caminho e aparecer uma semana depois - e também famoso abraçador dos recém-falecidos, prática que mantém apesar de acusações plurais de necrofilia. Cachaça, um verdadeiro pólo atrator de injustiça, cercado de lentes de incompreensão, explica que não se trata de necrofilia mas sim, na maioria das vezes, apenas de necroternura, e que nenhum morto jamais reclamou.
Tendo recomeçado o programa televisivo, Cachá retorna a seu aspecto comatoso e o Judeu traz novamente sua bebê para a sala. Pacificada, a pequena já não chora, mas presta insuficiente atenção aos sons estilo "chamamento de potrinho" produzidos pelo Tio Cachaça, mais afim à cavalos e éguas que a seres humanos. Por sua vez este presta pouca atenção aos primeiros passinhos da vida menina de oito meses, ocorrendo bem ali em sua frente, ou mais tecnicamente, em sua diagonal, já que à sua frente outros idosos obesos debatem nostalgicamente outros jogadores e times de tempos em preto e branco.
Não se sabe se pela chegada do Clarque, pela preferência da bebê a este manifestada por largos sorrisos, ou se era chegado o horário de seu jogo de futebol na várzea da Marginal Tietê, o Cachaça encaminha-se para a saída, aplicando doloroso chute no gato com leucemia felina e lembrando-se de acrescentar a pequena bebê ao seu Pequeno Caderninho de Rancores, Ressentimentos e Mágoas®™, cujos trinta volumes poderão ser encontrados brevemente em uma livraria próxima a você...
@10:45 0 intromissões tags:Cachaça,escritos
quarta-feira, 3 de junho de 2009
Nós costumávamos gostar tanto dessas músicas...
...mas nunca pensei que fosse ouvi-las de fato como elegias e com tamanho desgosto.
Em algum momento possível eu falo sobre isso tudo com minhas próprias palavras.
Adeus Carol.
Sunday is gloomy,
My hours are slumberless
Dearest the shadows
I live with are numberless
Little white flowers
Will never awaken you
Not where the black coach of Sorrow
Has taken you
Angels have no thoughts
Of ever returning you
Wouldnt they be angry
If I thought of joining you?
Gloomy sunday
Gloomy is sunday,
With shadows I spend it all
My heart and I
Have decided to end it all
Soon there´ll be candles
And prayers that are said I know
But let them not weep
Let them know that Im glad to go
Death is no dream
For in death I´m caressing you
With the last breath of my soul
I´ll be blessing you
Gloomy sunday
Dreaming, I was only dreaming
I awake and I find you asleep
In the deep of my heart, dear
Darling I hope
That my dream never haunted you
My heart is telling you
How much I wanted you
Gloomy sunday
So broken,
In pieces,
My heart is so broken,
I'm puzzling.
Here I go
Trying to run ahead of that,
Heart break train,
Thinking,
It will never catch up with me.
I'm so broken,
I'm trying to land,
This aeroplane of ours gracefully,
But it seems just destined to crash,
I'm so broken,
My heart is so broken,
How can, how can,
And I sense
All continuity
Has vanished away
At one step at a time now baby, baby
I'm so broken
I'm so completely unhealable, baby
segunda-feira, 1 de junho de 2009
Nenhum homem é uma ilha. Se um torrão de terra for levado pelo mar, a Europa fica menor, como se tivesse perdido um promontório, ou perdido o solar de um teu amigo, ou o teu próprio. Nunca mandes indagar por quem os sinos dobram; eles dobram por ti.
quarta-feira, 20 de maio de 2009
quarta-feira, 6 de maio de 2009
0-800-gato-novo
Porque não devemos perder o bom humor jamais.
via videosift.com
@13:07 0 intromissões tags:gatos
Lacan entre a vida e a morte. Meu laquinho...
Meu pequeno lince, liquidificador com garras, Aru que arrulhava, Quito, o gato lacônico que em sua infância miava apenas um meio miado , um "mi".
Pois meu gato caiu doente, quase que literalmente. Passou o dia sumido e finalmente encontrei-o debaixo da cama. Seus olhos iam de um lado pro outro muito rápido, sem parar, e assim ficaram por dias. E o equilíbrio foi pro espaço, ele só fica com a cabeça inclinada pra direita e cai pra esse lado. Mal conseguia andar, ia batendo nas paredes, caindo no chão, não conseguiu subir no sofá. Isso começou na quinta de noite.
Esses dois sintomas acusam algum problema neurológico que não é possível identificar, já que gato não fala e medicina diagnóstica felina ainda é uma fantasia. Cadê o House(Cat) MD quando a gente precisa dele?
Com a medicação o olho parou de tremer, e ele melhorou um pouco, mas o equilíbrio continua prejudicado, ele não come, não bebe água e a cada quatro passos tem um espasmo e cai de costas no chão. Me seguro pra não chorar, tanto na hora quanto agora.
Levei ele várias vezes na caixinha de areia, tadinho cai na areia, cai ao sair da caixa, mas ele se segura e só sujou um móvel, no auge da crise. Fora isso segura até eu levar ele pra caixinha.
Tenho dado alimentação à força, e quem conhece sabe como o gato fica horrorizado, um verdadeiro estupro de suas vontades, mas tem que comer. com ressentimento ou sem.
O Mao-Tse, irmão que é, cuida, olha e ajuda o Lacan a se limpar. E vira e mexe aproveita quando ninguém está olhando e cobre o coitado de porrada.
Assim, ainda não sabemos se ele vai melhorar, se vai sobreviver.
Eu queria muito que ele melhorasse, um pouco mais, ele até já conseguiu ir sozinho na caixa de areia, mas ainda não come... precisa ao menos comer sozinho... mesmo que fique sequeladinho - assim como o pai. memento mori, todos devemos morrer, mas não meu gato e não tão cedo, ele só tem cinco (ou seis) anos e precisa viver pra sempre e não sair nunca do meu lado, do meu colo, do pé da cama, da mesa de jantar onde ele arranha meu braço e pede por tomates. Lacan que deixa a Lucia toda sorridente cada vez que passa em seu campo de visão.
Lacan, laquito, meu gato, meu gato, meu gato, fique bom, sim?
@10:50 0 intromissões tags:escritos,gatos
terça-feira, 5 de maio de 2009
Memento Mori é o novo Carpe Diem
Carpe Diem é aquela coisa alegrinha, bonitinha, aproveitar o diazinho vendo sociedade dos poetinhas mortinhos. Memento Mori quer dizer a mesma coisa, mas aproximando-se pela via inversa, uma lembrança da morte que virá necessariamente e inclusive a si.
Então em vez de aproveite o dia, lembre-se da morte.
Religiosos diziam Memento Mori para lembrar que morrendo você vai pro paraíso ou não. Os que não acreditam em nenhum tipo de existência metafísica após a morte lembram que com a morte acaba tudo, passaram milhões de anos antes de eu ter nascido e passarão milhões depois de morrer e esse breve estado de vida é uma vez só e dura muito pouco.
Generais romanos tinham escravos que lhes sussurravam memento mori, relembrando-os de sua mortalidade. Memento Mori porque todas as coisas são efêmeras, boas e ruins, tudo passa e o tempo corrói tudo anyway.
Meu gato mia como quem sofre e não entende o que ou por que lhe acontece.
Caso existam entidades metafísicas que velam, atendem ou interferem com assuntos dos vivos, curem meu gato já, cambada de filhos da puta.
@16:27 1 intromissões tags:escritos,gatos
segunda-feira, 27 de abril de 2009
Obsolescência
Quando fui morar nos Estados Unidos, meus amigos saquearam minha casa: livros, cds e até, pasmem, fitas. Quis um monte de circunstâncias não-relacionadas que chamarei de destino que meu carro tenha apenas toca-fitas e rádio. Acabo ouvindo bastante rádio, já que não aguento mais as mesmas fitas que me restaram da década em que eu gravava fitas, 80? Elas são uma coletânea do Toy Dolls, uma do Motorhead, uma do nine inch nails e uma do Doors.
Aí voltando do almoço passo em uma loja de discos cheia de teias de aranha e pergunto se eles tem fita. Fita? pergunta o dono com espanto, que fita? Fita, respondo, fita cassete, de música. K7. O cara me olha com absoluto espanto, como se eu pedisse rolos de gramofone. E diz aqui a gente não trabalha com isso. Ah mas com CD o senhor trabalha? É.
Saindo por aí atrás de fita sinto-me o próprio estegossauro. Agora ar de superioridade vindo do iguanodonte ao lado, sob a sombra do meteoro, só dando risada.
@11:27 0 intromissões tags:escritos
terça-feira, 31 de março de 2009
Sexo, Religião, México e Motion Graphics
Mexicanos porretas!
via videograter.com
@18:35 0 intromissões tags:animation
15 traduções de autopsicografia
Recentemente reencontrei esse link com 15 traduções diferentes de "Autopsicografia", do Fernando Pessoa, com a possibilidade de comparar lado a lado:
http://www.disquiet.com/thirteen.html
MUST.
What we are cannot be transfused into word or book.
English Sonnets: I
Whether we write or speak or do but look
We are ever unapparent. What we are
Cannot be transfused into word or book.
Our soul from us is infinitely far.
However much we give our thoughts the will
To be our soul and gesture it abroad,
Our hearts are incommunicable still.
In what we show ourselves we are ignored.
The abyss from soul to soul cannot be bridged
By any skill of thought or trick of seeming.
Unto our very selves we are abridged
When we would utter to our thought our being.
We are our dreams of ourselves, souls by gleams,
And each to each other dreams of others’ dreams.
Fernando Pessoa
(o livro com os 35 sonetos, escritos em inglês pelo Fernando Pessoa está disponível para leitura ou Download aqui:
http://www.gutenberg.org/catalog/world/readfile?fk_files=274171 )
segunda-feira, 23 de março de 2009
O ser humano se revela no trânsito
Há muito tempo estou ensaiando escrever sobre isso mas ainda não organizei todos os pensamentos. Em resumo, a maneira que a pessoa age e reage em relação aos outros carros, aos seus passageiros, aos pedestres... Observar o que te irrita no trânsito vale por um ano de análise. Pessoalmente me irrito com folgados, com pessoas que atravancam meu caminho e com obstáculos à hipermilhagem, que acredito, seja o conceito central a se considerar em uma nova etiqueta de trânsito.
Enfim, em breve.
quinta-feira, 19 de março de 2009
Inversão Darwiniana
Video muito legal sobre um conceito darwiniano aplicado à inversão das origens do que é doce, bonitinho, sexy e engraçado.
O conceito de "superestímulo" tb é um puta insight.
quarta-feira, 11 de março de 2009
Gatos discutindo a relação
facilmente o video mais engraçado do ano:
@13:30 0 intromissões tags:gatos
terça-feira, 10 de março de 2009
quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009
Pessoas que colocam faróis de xenônio nos carros merecem a morte
Venho por meio desta propor a formação de milícias que visem assassinar os donos de carro com farol xenônio. Tenho vários ódios de estimação mas este merece um pouco de proeminência.
terça-feira, 10 de fevereiro de 2009
Eugene encontra o Morgan Freeman das baratas
Eugene estava visitando Zurique quando uma estátua de zippo gigante caiu em sua patinha. Cucaracha que era, teve dificuldades de caminhar e não recebeu nenhuma ajuda dos locais, literalmente umas amebas. Mas se caminhar era difícil, dançar era impossível - sapatear sem uma pata impossibilitava o ritmo, e o ritmo, tipity tapity, é tudo.
Impossibilitado de dançar, Eugene ficou três dias no seu quarto de hotel em algo que parecia uma crise de abstinência. Ele sapateava desde antes do grande desastre nuclear, que ocorreu justamente quando tentava-se dispor das bombas remanescentes de forma segura. Durante esses três dias, Eugene pensou no zumbido constante da fábrica de cigarros onde vivia, que o pó de osso um dia iria acabar, e como o mundo era estranho sem vertebrados - ainda que seguro.
No quarto dia Eugene saiu do quarto e foi para a praça. Sua pata já estava bem melhor mas ele não sentia vontade de dançar. Ficou na praça alimentando as moscas, que habilmente preencheram o lugar dos pombos. Uma outra barata, bem cascuda e escura, sentou a seu lado e ambos ficaram algumas horas em silêncio. A outra barata tira debaixo da asa um mata-rato e leva à boca, mas não acende. Eugene quebra o silêncio "você não vai acender?". "Dá na mesma," responde o outro " eu tenho trauma. Um dia acendi um desses na beira do rio e o rio inteiro pegou fogo - foi onde queimei minhas antenas. Uma barata sem antenas, onde já se viu. É como um cachorro cego que caiu do caminhão de mudanças em meio a um tiroteio. Consegui decorar meia dúzia de caminhos e é neles que eu passo a vida. O principal deles é o caminho aqui pra praça", disse enquanto pegava um pó branco do chão "Aspartame. minha vida hoje é roubar das moscas o aspartame que a elas é jogado." Eugene oferece seu último pacotinho de adoçante. "Ciclamato? Nem morto alguém me vê comendo esse negócio, prefiro morrer de inanição." Eugene pensou em explicar como as baratas de hoje não morrem mais de inanição, que bactérias mutagênicas no sistema digestivo produzem toda a energia que uma barata precisa pra viver, teoricamente, pra sempre. Ao invés, esticou as patas e disse "Eugene". O outro permaneceu em silêncio. Ficam ali mais meia hora, olhando as moscas. "Bom, vou nessa. Boa sorte", disse Eugene. Sem se virar, o outro responde "boa... HAHAHAHAHAHAHAHA. Mais essa agora." Eugene já está a vários passos de distância quando o outro grita "Moleque? Aparece aqui amanhã!". Eugene dá de ombros e continua andando.
No caminho de volta, uma daquelas amebas impossivelmente supercrescidas tenta se comunicar com ele. Esta, além do tradicional dialeto primitivo, falava com sotaque. Tudo que ela falava soava como se fosse "Igoooooor". Eugene tentou passar pelo lado mas a ameba esticou uma protuberância, impedindo sua passagem. "escuta aqui, igor ou seja lá qual for seu nome estúpido, tira esse pseudópode do caminho ou você vai ganhar um amiguinho, o mini-igor. A membrana da ameba tremulava e começava a cercar Eugene. Ele deu meia volta e viu que estava cercado. Preparou-se pra voar, o que fazia muito raramente já que sempre ficava com labirintite e acabava perdido, mas suas patas estavam presas na gosma que emanava da ameba, que gemia "IIIIGOOOOORRRRR".
"Se eu fosse você entregava esse pacotinho que você tem aí". Era a barata da praça, que estava dentro de uma bolha no interior de uma das amebas. "Esses bichos amam adoçante, e acabam capturando baratas que tenham o mais tênue odor residual." Eugene responde "você me parece estranhamente calmo para alguém prestes a ser digerido". "E quem está sendo digerido?", diz, rompendo a bolha interna. "elas não conseguem fagocitar a gente. Em contra-partida é muito difícil escapar. Existem muitas baratas capturadas em amebas e se elas morrem de alguma coisa, é de tédio. Agora entrega o saquinho..."
As amebas estavam ficando muito agitadas. Eugene abriu o pacote e jogou em cima da ameba que continha a outra barata. As outras, com velocidade surpreendente, se jogaram em cima dela, digerindo sua membrana pra chegar ao precioso adoçante. A outra barata aproveitou pra escapar. "Que meleca! mas, sabe, se tivesse uma portinha, não seria um lugar tão desconfortável pra morar." Nascia uma idéia que iria afetar o futuro de todos eles. A outra barata estende as patas na direção errada e se apresenta: "Freeman". Eugene pergunta "Gordon ou Morgan?" mas não recebe resposta. Enquanto isso as amebas em seu frenesi alimentar uivam para a lua: "IGGOOOOOOOOOR".
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sexta-feira, 23 de janeiro de 2009
segunda-feira, 1 de dezembro de 2008
Ryan
Uma obra de arte - uma animação 3d baseada em uma entrevista com um animador famoso, Ryan Larkin, que acabou virando mendigo.
@13:39 0 intromissões tags:animation
segunda-feira, 24 de novembro de 2008
versões literais de videoclips
Videoclips com a voz regravada pra narrar o que acontece no clip, literalmente.
Genial e internet-meme instantâneo.
Aqui o do Aha - take on me
e mais versões literais aqui
http://www.videosift.com/search?q=literal+version
terça-feira, 21 de outubro de 2008
Enquanto isso, em mais uma cidade calvina...
Houve um tempo em que contavam-se as horas em cigarros, cujos aros de fumaça circulavam no ar roído. Dizia Destino, em seu jardim borgiano, que ao olhar para trás o caminho parece uma linha reta. Não falava se havia flores nos canteiros , concreto ou se esses atravessavam-se. Trajes de couro e linha, pós-apocalípticos, óculos de snowboard quase steampunks riscados e largados pela estrada, manchados de pele e fluidos escuros. Um elefante feito de bitucas e efigies mineiras merecidamente queimadas, todos os cds indestrutíveis que restaram após o apocalipse, ou nas palavras do grande historiador inseto, a grande liberação. Baratas e macarrões mutantes acendem cigarros de osso humano nas chamas da lava radiativa.
Uma barata chamada Eugene, homenagem ao último músico a sair vivo de chernobyl, risca uns acordes de sa-pateado no chão da sala, tipity tapity. Neste mundo não sobraram gatos, lhes foi oferecida digna carona pelos golfinhos. Em tom de homenagem os gatos disseram adeus e obrigado pelo atum, ato considerado um gigantesco faux-pass pelos golfinhos, que perderam muitos membros em redes de pesca de atum. Por que não voaram? vai explicar. Anos depois seriam mascotes espaciais do Lobo, enquanto dos gatos nem sinal.
Acreditando que, à moda da cadeia, cigarros seriam a grande moeda de troca no pós-apocalipse, os grandes fabricantes deixaram as máquinas ligadas no automático noite adentro e no dia seguinte não havia quem as desligasse. Cortadeiras de tabaco, mini usinas e toda a linha de produção continuaram cuspindo maços e maços de cigarro, intermináveis, para os quais Eugene acrescentava os referidos ossos e achava os mais diversos usos. Um deles, em um período específico de tempo e tédio, foi transformá-los em pixel art visível do espaço, pelos satélites sem uso e pela minúscula estação espacial, onde diz-se, um último casal de humanos permanecia.
Eugene pouco saía das centenas de quilometros que considerava seu território. Essas saídas acabavam resultando em indesejados encontros com os descendentes de bactérias extremófilas de diferentes taras. Sua comunicação era muito primitiva, tornando os diálogos áridos e funcionais. Eugene certificou-se que elas entendiam o significado de "not welcome" e elas, por sua vez, raramente entravam no território. Apesar de prestarem diversos serviços úteis, como comer a radiação residual que Eugene abominava, considerando-se mutado o suficiente, deixavam sempre um rastro como se fosse uma lesma gigante, mas muito mais difícil de limpar. Não se sabe que leis da física e da biologia foram rompidas para que um ser unicelular de meio metro de comprimento perambulasse pela terra, mas sabe-se que aquele rastro não sai nem usando tabaco - o bom-bril da época.
Entediado, Eugene pôs-se a praticar seu tipity-tapity.
@14:35 0 intromissões tags:escritos,eugene
sexta-feira, 26 de setembro de 2008
terça-feira, 23 de setembro de 2008
Conflitos
Queria tomar um grande copo de cicuta, mas tenho medo que ela ataque minha úlcera.
Por outro lado cicuta é um sonífero muito potente, pode ser só meio copo de valium pra acordar a tempo de ir pra maternidade receber a novata.
Gogol Bordello no Tim Festival
Eu já comprei meu ingresso. Se precisar levo o bebê na mochila.
enquanto isso...
American Wedding, do último album, Super Taranta
Never Young, do album Gipsy Punks Underdog World Strike
letra:
By the desperate 'n' confused
Emotion of the youth
I was brought to Crisis island
Where after getting checked for fleas
And barricades of embassies
I was sculpted to be overworked and silent
But since the early age
I broke out of the cage
And learned how to make marching drums
From fish can
And I knew I'll run away
And so without further delay
I said "Two tears in a bucket
Motherfuck it!"
And it seems like I ran and ran
Through the garbage and quicksand
And after getting checked for fleas
and barricades of embassies
I would never never never never
wanna be young again!...
But sudden wind it stole my hat
And I went on chasing it
Before I was just another burned out carnie
Every freak on every day
Lives a life one certain way
And that way is ain't no nothin' but a birthright~
But since the early age
I broke out of the cage...
And it seems like I ran and ran
through the garbage and quicksand
and after getting checked for fleas
and barricades of embassies
I would never never never never
wanna be young again...
quarta-feira, 10 de setembro de 2008
quarta-feira, 27 de agosto de 2008
sexta-feira, 15 de agosto de 2008
Cachaça: faça seu pedido
Cachaça chega esbaforido na casa do Judeu. Seria redundante dizer que tinha fome. Igualmente redundante presumir a ausência de comida. Resolve então pedir um lanche e pergunta aos amigos se alguém quer algo. Ninguém quer nada. Ele pega emprestado o celular do Judeu, apesar de portar um igualmente capaz de fazer ligações (ligação custa caro) e liga pro Burdog. Cachaça, que já tem dificuldades suficientes em pedir pra si mesmo, se vê cercado de pessoas que subitamente querem coisas complexas, como xburguer e milksheikson. Lá pela terceira alteração de pedido o atendente perde a paciência e manda o cachaça tomar no cu, onde já se viu, que imprestável, não sabe nem fazer pedido. Cachaça gagueja, pasmo, enquanto o cara reitera o que acha do Cachaça e sua capacidade de fazer pedidos. Quando o cachaça chega no ponto em que já levou lambada o suficiente e começa a frase "Mas quem é você, seu..." ouve o sinal de tu-tu-tu e desliga, garantindo que qualquer pedido futuro feito pelo Judeu no estabelecimento venha cuspido.
@15:24 0 intromissões tags:Cachaça,escritos
Cemitério, lugar de gente feliz
Meu sócio aparece aqui de preto, todo galante e bem-vestido, pergunto a ocasião. "Enterro". Digo que eles está muito bem e que assim as pessoas deveriam morrer com mais frequência. Parece que era um enterro de parente, então meu elogio não foi tão bem recebido. Ele pergunta o melhor caminho para o cemitério do morumbi. Olho no site e explico. Por curiosidade, clico na home page do cemitério. A frase era "O cemitério do morumbi mantém uma infra-estrutura completa para garantir o seu bem-estar com o mais alto padrão". O redator só pode ter vindo do mercado imobiliário. Faz sentido, até porque uma tumba lá deve ser mais cara que muito apartamento.
@10:19 0 intromissões tags:escritos