Pessoas que colocam faróis de xenônio nos carros merecem a morte
Venho por meio desta propor a formação de milícias que visem assassinar os donos de carro com farol xenônio. Tenho vários ódios de estimação mas este merece um pouco de proeminência.
em obediência à segunda lei da termodinâmica, ou não
Venho por meio desta propor a formação de milícias que visem assassinar os donos de carro com farol xenônio. Tenho vários ódios de estimação mas este merece um pouco de proeminência.
Eugene estava visitando Zurique quando uma estátua de zippo gigante caiu em sua patinha. Cucaracha que era, teve dificuldades de caminhar e não recebeu nenhuma ajuda dos locais, literalmente umas amebas. Mas se caminhar era difícil, dançar era impossível - sapatear sem uma pata impossibilitava o ritmo, e o ritmo, tipity tapity, é tudo.
Impossibilitado de dançar, Eugene ficou três dias no seu quarto de hotel em algo que parecia uma crise de abstinência. Ele sapateava desde antes do grande desastre nuclear, que ocorreu justamente quando tentava-se dispor das bombas remanescentes de forma segura. Durante esses três dias, Eugene pensou no zumbido constante da fábrica de cigarros onde vivia, que o pó de osso um dia iria acabar, e como o mundo era estranho sem vertebrados - ainda que seguro.
No quarto dia Eugene saiu do quarto e foi para a praça. Sua pata já estava bem melhor mas ele não sentia vontade de dançar. Ficou na praça alimentando as moscas, que habilmente preencheram o lugar dos pombos. Uma outra barata, bem cascuda e escura, sentou a seu lado e ambos ficaram algumas horas em silêncio. A outra barata tira debaixo da asa um mata-rato e leva à boca, mas não acende. Eugene quebra o silêncio "você não vai acender?". "Dá na mesma," responde o outro " eu tenho trauma. Um dia acendi um desses na beira do rio e o rio inteiro pegou fogo - foi onde queimei minhas antenas. Uma barata sem antenas, onde já se viu. É como um cachorro cego que caiu do caminhão de mudanças em meio a um tiroteio. Consegui decorar meia dúzia de caminhos e é neles que eu passo a vida. O principal deles é o caminho aqui pra praça", disse enquanto pegava um pó branco do chão "Aspartame. minha vida hoje é roubar das moscas o aspartame que a elas é jogado." Eugene oferece seu último pacotinho de adoçante. "Ciclamato? Nem morto alguém me vê comendo esse negócio, prefiro morrer de inanição." Eugene pensou em explicar como as baratas de hoje não morrem mais de inanição, que bactérias mutagênicas no sistema digestivo produzem toda a energia que uma barata precisa pra viver, teoricamente, pra sempre. Ao invés, esticou as patas e disse "Eugene". O outro permaneceu em silêncio. Ficam ali mais meia hora, olhando as moscas. "Bom, vou nessa. Boa sorte", disse Eugene. Sem se virar, o outro responde "boa... HAHAHAHAHAHAHAHA. Mais essa agora." Eugene já está a vários passos de distância quando o outro grita "Moleque? Aparece aqui amanhã!". Eugene dá de ombros e continua andando.
No caminho de volta, uma daquelas amebas impossivelmente supercrescidas tenta se comunicar com ele. Esta, além do tradicional dialeto primitivo, falava com sotaque. Tudo que ela falava soava como se fosse "Igoooooor". Eugene tentou passar pelo lado mas a ameba esticou uma protuberância, impedindo sua passagem. "escuta aqui, igor ou seja lá qual for seu nome estúpido, tira esse pseudópode do caminho ou você vai ganhar um amiguinho, o mini-igor. A membrana da ameba tremulava e começava a cercar Eugene. Ele deu meia volta e viu que estava cercado. Preparou-se pra voar, o que fazia muito raramente já que sempre ficava com labirintite e acabava perdido, mas suas patas estavam presas na gosma que emanava da ameba, que gemia "IIIIGOOOOORRRRR".
"Se eu fosse você entregava esse pacotinho que você tem aí". Era a barata da praça, que estava dentro de uma bolha no interior de uma das amebas. "Esses bichos amam adoçante, e acabam capturando baratas que tenham o mais tênue odor residual." Eugene responde "você me parece estranhamente calmo para alguém prestes a ser digerido". "E quem está sendo digerido?", diz, rompendo a bolha interna. "elas não conseguem fagocitar a gente. Em contra-partida é muito difícil escapar. Existem muitas baratas capturadas em amebas e se elas morrem de alguma coisa, é de tédio. Agora entrega o saquinho..."
As amebas estavam ficando muito agitadas. Eugene abriu o pacote e jogou em cima da ameba que continha a outra barata. As outras, com velocidade surpreendente, se jogaram em cima dela, digerindo sua membrana pra chegar ao precioso adoçante. A outra barata aproveitou pra escapar. "Que meleca! mas, sabe, se tivesse uma portinha, não seria um lugar tão desconfortável pra morar." Nascia uma idéia que iria afetar o futuro de todos eles. A outra barata estende as patas na direção errada e se apresenta: "Freeman". Eugene pergunta "Gordon ou Morgan?" mas não recebe resposta. Enquanto isso as amebas em seu frenesi alimentar uivam para a lua: "IGGOOOOOOOOOR".
@11:41 0 intromissões tags:escritos,eugene