sexta-feira, 9 de abril de 2010

O grave jardim.

Em um imenso e estranho jardim, na vigésima terceira quadra, existe um buraco que atravessa a alma dos vivos.

Esse não é o jardim do Destino, nem do Sonho, mas não é certo quais outros Eternos transitam ali. Temo que todos eles talvez.

Não era um domingo, libélulas bebiam água escura como leite da madrugada. Damselflies ou Dragonflies, cuja vida encerra-se em vinte e quatro horas, às vezes em vinte e três.

Não há sinos que dobrem o suficiente, nem véus, nem lenços, nem pegadas nem a multidão que grita em herméticos silêncios.

Um verde tão extenso, cobrindo inimagináveis ruínas; ao levantar os olhos encharcados às vezes é possível notar a imensa arqueologia de seus subterrâneos e uma estrada de tijolos, nada dourados e sim de bronze, milhares e certamente manchados de lágrimas de diversos tons.

Baixando os olhos mais uma vez, peito atravessado por uma lança de comprimento infinito, levanto e saio andando em busca de ar, atravessando uma nuvem de libélulas, abismado pelo fato de que, em seu único dia sobre a terra, sejam alheias à tamanha tristeza ao seu redor.