sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Os tipos de emprego - Contos de Mera Existência

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Cool Hunting season


(dica da Reca)

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Um verdadeiro cara-de-pau esse

Um curta muito legal e estranho, dirigido e animado pelo Bartok, suposto descendente de Bella Bartok.
Acho que talvez exista alguma possibilidade de hipoteticamente alguém extrair um sentindo muito profundo de tudo isso, but I´m not really sure.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Influências: o que afeta sua obra?


via trabalho Sujo

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Você acha que sexo anal dói? Experimente ter um filho

Perdoem-me mas sabem como é, o elefante caiu na lama.


"Quando você absolutamente precisa de sexo e não tem anticoncepcionais por perto, apenas tome no rabo.
Pode não ser a coisa mais confortável do mundo mas vai doer bem menos que espremer um bebê pela sua virilha nove meses depois."

segunda-feira, 27 de julho de 2009

essa chuva ácida...

...que só me traz bad trip.
Damned mondays.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Se você quer muito, deve estar fora do seu alcance

O grande camarada Domênico, em seu blog feito à unha no notepad, teve um insight que em sua simplicidade não é nada menos que genial:

"quanto maior o desejo que sentimos por algo, maior a distância até o mesmo."

Agora pode ir ler o texto todo,
é o post entitulado "QUEM",
em http://www.domenicomassareto.com.br/

terça-feira, 23 de junho de 2009

Eugene e Gregor

Eugene acordou e não sabia onde estava. Abriu os olhos e tudo estava branco. Abriu as antenas, metaforicamente, claro, e tudo cheirava a branco. Tentou se mexer e viu suas patas, dando-se conta que ainda tinha seu corpo. Mas onde estava? Tudo era tão branco que Eugene foi tomado de vertigem. Seu corpo amoleceu, também metaforicamente, afinal estamos falando aqui de um ser com exoesqueleto. Eugene largou-se tentando perceber a passagem do tempo mas esta não dava qualquer tipo de sinal externo e ele perdeu-se em sensações subjetivas, sem saber se teria passado uma hora, um dia, um ano.

Eugene lembrou-se que um dia, um ano, uma vida atrás, ouviu uma historia sobre um filme chamado "Feitiço do Tempo", em o cara tem que viver o mesmo dia todo dia até aprender umas coisas e o feitiço, ou maldição, se desfaz. Mas a história mesmo é que o ator do filme queria algo mais filosófico e escuro, e que em sua versão o protagonista passa nada menos que dez mil anos vivendo o mesmo idêntico dia. Eugene se deu conta que não tinha como ter idéia de quanto tempo passou ali, ou quanto tempo iria passar.

Quase que por hábito começa a andar. Costumava pensar melhor andando e o som dos seus vários passos, como um metrônomo, era uma forma de contabilizar o tempo, mas entre três e quatro mil acabava distraindo-se e perdia a conta. Ainda assim continuava a andar. Tinha medo de petrificar-se caso parasse, como ficava ansioso com o silêncio que seus passos preenchiam. Ele alternava o ritmo das patinhas, sem nunca começar a dançar, seu tipity-tapity não seria apropriado ali.

E depois de sabe-se lá quanto tempo, parecia muito, obstante ausência de montras, sentiu irrefreável necessidade de conversar. Arrancou um pedaço redondo de sua asinha, fez dois furos e segurou-a à sua frente com a antena, dizendo pra si mesmo que se o Robinson Crusoe tinha um Sexta-feira (não tinha), e o Náufrago tinha um Wilson, ele poderia ter alguém. Olhou bem para a cara de sonso do pedaço de asa e disse: vou chamá-lo de Gregor.

Gregor era um tanto calado mas ótimo ouvinte. Escutou com paciência a todas as histórias de Eugene, descobrindo que ele foi uma das primeiras baratas mutantes, que chegou a conhecer os seres humanos, que acreditava que alguns deles ainda estariam em sua pequena biosfera em órbita, que praticamente escolheu o vício em cigarros de osso como uma arma contra o tédio, e que daria uma patinha por um desses agora. Falou sobre as músicas que gostava, cantou, analisou as letras, disse que gostava da serendipidade de ouvir rádio e cantou músicas aleatórias, com direito a encenações de intervalos comerciais e vinhetas. Eugene cansou depois de um tempo e prossguiu em silêncio.

Um belo "dia", ou "noite", mesmo "momento" é uma palavra difícil de aplicar aqui, encontrou um rastro de patas. Exaltado, começou a gritar e chamar, sem resposta alguma. Era a primeira coisa que não fosse branca ou ele mesmo que via em, sabe-se lá, anos. Começou a seguir o rastro de pegadinhas pretas e tinha impressão que Gregor fazia caretas.


(continua)

terça-feira, 9 de junho de 2009

Cachaça em: "Nova demais para o caderninho?"

Após longa ausência, Cachaça reaparece a visitar seu amigo, o Judeu. Uma pequena e recém-acordada bebezinha de oito meses, ao perceber uma inesperada movimentação na casa, abre-se em lágrimas - provocando silenciosa indignação no Cachaça, que se sente desamado pela infante. Revoltado e disposto a reciprocar o gesto, passa a fazer horríveis caretas e esgares, fazendo que a bebê chore novamente, agora sim com verdadeiro e indefeso pavor, precisando de muitos minutos no colo do pai para voltar a se sentir minimamente segura.

Cachaça pede para ligar a TV e sintoniza um canal de comentário esportivo, onde velhos obesos expressam em cadeia nacional suas auto-importante opiniões sobre times e atletas. O Judeu pede para o Cachaça tomar conta da pequenina, já refeita da desfeita (incríveis as crianças pequenas, que não guardam mágoa), para que possa preparar a tal papinha infantil. Cachaça estica uma das mãos na direção da bebê, mantém os olhos fixos na tv e dela não descuida, apesar de suas poucas oportunidades de apreciar o não tão raro mas para ele inédito espetáculo da alimentação infantil.

Tendo sido alimentada, a bebê inicia o processo inverso e precisa ter sua fralda trocada. Em meio à operação o Judeu solicita que o Cachaça deixe a TV por um momento e venha ajudá-lo, impedindo que a bebê role e caia do trocador, enquanto o pai procura uma roupinha limpa para sua cristalina princesa. Assim que se aproxima da cabeça da bebê e inicia sua vigília, o sujeito de nome de bebida alcoólica solta o mais desavergonhado peido da história, um horroroso som prolongado e úmido, seguido de estridente gargalhada. Para quem não conhece, tal gargalhada pode ser apenas descrita como uma pessoa arranhando um quadro negro com suas unhas e tendo um sincopado ataque epilético durante o processo.

Expulso do quarto cor-de-rosa que acabara de empestear sordidamente com seus ventos fecais, o Cachaça volta aliviado para o programa de TV, um especial mostrando bolas na trave ocorridas em partidas de ano bissexto. Aproveitando uma pausa no programa, o Cachaça responde à questões morais do Judeu, pontificando sobre gestos como representantes do intrínseco de cada ser humano. Encarnando misteriosamente um guru que trouxe apenas doçura e sentimentos bons à todas as vidas que tocou, saudosas e iluminadas por sua passagem, o Cachaça convence o Judeu que no caso em questão não basta sofrer privadamente, é necessário prestar solidariedade aos outros que sofrem. O Cachaça é uma famoso abraçador dos recém-enlutados - segundo complexo ritual de dizer-se a caminho e aparecer uma semana depois - e também famoso abraçador dos recém-falecidos, prática que mantém apesar de acusações plurais de necrofilia. Cachaça, um verdadeiro pólo atrator de injustiça, cercado de lentes de incompreensão, explica que não se trata de necrofilia mas sim, na maioria das vezes, apenas de necroternura, e que nenhum morto jamais reclamou.

Tendo recomeçado o programa televisivo, Cachá retorna a seu aspecto comatoso e o Judeu traz novamente sua bebê para a sala. Pacificada, a pequena já não chora, mas presta insuficiente atenção aos sons estilo "chamamento de potrinho" produzidos pelo Tio Cachaça, mais afim à cavalos e éguas que a seres humanos. Por sua vez este presta pouca atenção aos primeiros passinhos da vida menina de oito meses, ocorrendo bem ali em sua frente, ou mais tecnicamente, em sua diagonal, já que à sua frente outros idosos obesos debatem nostalgicamente outros jogadores e times de tempos em preto e branco.

Não se sabe se pela chegada do Clarque, pela preferência da bebê a este manifestada por largos sorrisos, ou se era chegado o horário de seu jogo de futebol na várzea da Marginal Tietê, o Cachaça encaminha-se para a saída, aplicando doloroso chute no gato com leucemia felina e lembrando-se de acrescentar a pequena bebê ao seu Pequeno Caderninho de Rancores, Ressentimentos e Mágoas®™, cujos trinta volumes poderão ser encontrados brevemente em uma livraria próxima a você...

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Nós costumávamos gostar tanto dessas músicas...

...mas nunca pensei que fosse ouvi-las de fato como elegias e com tamanho desgosto.
Em algum momento possível eu falo sobre isso tudo com minhas próprias palavras.
Adeus Carol.



Sunday is gloomy,
My hours are slumberless
Dearest the shadows
I live with are numberless
Little white flowers
Will never awaken you
Not where the black coach of Sorrow
Has taken you
Angels have no thoughts
Of ever returning you
Wouldnt they be angry
If I thought of joining you?

Gloomy sunday

Gloomy is sunday,
With shadows I spend it all
My heart and I
Have decided to end it all
Soon there´ll be candles
And prayers that are said I know
But let them not weep
Let them know that Im glad to go
Death is no dream
For in death I´m caressing you
With the last breath of my soul
I´ll be blessing you

Gloomy sunday

Dreaming, I was only dreaming
I awake and I find you asleep
In the deep of my heart, dear
Darling I hope
That my dream never haunted you
My heart is telling you
How much I wanted you
Gloomy sunday





So broken,
In pieces,
My heart is so broken,
I'm puzzling.

Here I go
Trying to run ahead of that,
Heart break train,
Thinking,
It will never catch up with me.

I'm so broken,
I'm trying to land,
This aeroplane of ours gracefully,
But it seems just destined to crash,

I'm so broken,
My heart is so broken,
How can, how can,
And I sense
All continuity
Has vanished away
At one step at a time now baby, baby
I'm so broken

I'm so completely unhealable, baby

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Nenhum homem é uma ilha. Se um torrão de terra for levado pelo mar, a Europa fica menor, como se tivesse perdido um promontório, ou perdido o solar de um teu amigo, ou o teu próprio. Nunca mandes indagar por quem os sinos dobram; eles dobram por ti.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Vamos falar sobre as flores, as abelhas e os pássaros


quarta-feira, 6 de maio de 2009

0-800-gato-novo

Porque não devemos perder o bom humor jamais.


via videosift.com

Lacan entre a vida e a morte. Meu laquinho...

Meu pequeno lince, liquidificador com garras, Aru que arrulhava, Quito, o gato lacônico que em sua infância miava apenas um meio miado , um "mi".
Pois meu gato caiu doente, quase que literalmente. Passou o dia sumido e finalmente encontrei-o debaixo da cama. Seus olhos iam de um lado pro outro muito rápido, sem parar, e assim ficaram por dias. E o equilíbrio foi pro espaço, ele só fica com a cabeça inclinada pra direita e cai pra esse lado. Mal conseguia andar, ia batendo nas paredes, caindo no chão, não conseguiu subir no sofá. Isso começou na quinta de noite.
Esses dois sintomas acusam algum problema neurológico que não é possível identificar, já que gato não fala e medicina diagnóstica felina ainda é uma fantasia. Cadê o House(Cat) MD quando a gente precisa dele?
Com a medicação o olho parou de tremer, e ele melhorou um pouco, mas o equilíbrio continua prejudicado, ele não come, não bebe água e a cada quatro passos tem um espasmo e cai de costas no chão. Me seguro pra não chorar, tanto na hora quanto agora.
Levei ele várias vezes na caixinha de areia, tadinho cai na areia, cai ao sair da caixa, mas ele se segura e só sujou um móvel, no auge da crise. Fora isso segura até eu levar ele pra caixinha.
Tenho dado alimentação à força, e quem conhece sabe como o gato fica horrorizado, um verdadeiro estupro de suas vontades, mas tem que comer. com ressentimento ou sem.
O Mao-Tse, irmão que é, cuida, olha e ajuda o Lacan a se limpar. E vira e mexe aproveita quando ninguém está olhando e cobre o coitado de porrada.
Assim, ainda não sabemos se ele vai melhorar, se vai sobreviver.
Eu queria muito que ele melhorasse, um pouco mais, ele até já conseguiu ir sozinho na caixa de areia, mas ainda não come... precisa ao menos comer sozinho... mesmo que fique sequeladinho - assim como o pai. memento mori, todos devemos morrer, mas não meu gato e não tão cedo, ele só tem cinco (ou seis) anos e precisa viver pra sempre e não sair nunca do meu lado, do meu colo, do pé da cama, da mesa de jantar onde ele arranha meu braço e pede por tomates. Lacan que deixa a Lucia toda sorridente cada vez que passa em seu campo de visão.
Lacan, laquito, meu gato, meu gato, meu gato, fique bom, sim?

terça-feira, 5 de maio de 2009

Memento Mori é o novo Carpe Diem

Carpe Diem é aquela coisa alegrinha, bonitinha, aproveitar o diazinho vendo sociedade dos poetinhas mortinhos. Memento Mori quer dizer a mesma coisa, mas aproximando-se pela via inversa, uma lembrança da morte que virá necessariamente e inclusive a si.

Então em vez de aproveite o dia, lembre-se da morte.

Religiosos diziam Memento Mori para lembrar que morrendo você vai pro paraíso ou não. Os que não acreditam em nenhum tipo de existência metafísica após a morte lembram que com a morte acaba tudo, passaram milhões de anos antes de eu ter nascido e passarão milhões depois de morrer e esse breve estado de vida é uma vez só e dura muito pouco.

Generais romanos tinham escravos que lhes sussurravam memento mori, relembrando-os de sua mortalidade. Memento Mori porque todas as coisas são efêmeras, boas e ruins, tudo passa e o tempo corrói tudo anyway.

Meu gato mia como quem sofre e não entende o que ou por que lhe acontece.

Caso existam entidades metafísicas que velam, atendem ou interferem com assuntos dos vivos, curem meu gato já, cambada de filhos da puta.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Obsolescência

Quando fui morar nos Estados Unidos, meus amigos saquearam minha casa: livros, cds e até, pasmem, fitas. Quis um monte de circunstâncias não-relacionadas que chamarei de destino que meu carro tenha apenas toca-fitas e rádio. Acabo ouvindo bastante rádio, já que não aguento mais as mesmas fitas que me restaram da década em que eu gravava fitas, 80? Elas são uma coletânea do Toy Dolls, uma do Motorhead, uma do nine inch nails e uma do Doors.

Aí voltando do almoço passo em uma loja de discos cheia de teias de aranha e pergunto se eles tem fita. Fita? pergunta o dono com espanto, que fita? Fita, respondo, fita cassete, de música. K7. O cara me olha com absoluto espanto, como se eu pedisse rolos de gramofone. E diz aqui a gente não trabalha com isso. Ah mas com CD o senhor trabalha? É.

Saindo por aí atrás de fita sinto-me o próprio estegossauro. Agora ar de superioridade vindo do iguanodonte ao lado, sob a sombra do meteoro, só dando risada.

terça-feira, 31 de março de 2009

Sexo, Religião, México e Motion Graphics

Mexicanos porretas!


via videograter.com

15 traduções de autopsicografia

Recentemente reencontrei esse link com 15 traduções diferentes de "Autopsicografia", do Fernando Pessoa, com a possibilidade de comparar lado a lado:

http://www.disquiet.com/thirteen.html


MUST.

What we are cannot be transfused into word or book.

English Sonnets: I

Whether we write or speak or do but look
We are ever unapparent. What we are
Cannot be transfused into word or book.
Our soul from us is infinitely far.
However much we give our thoughts the will
To be our soul and gesture it abroad,
Our hearts are incommunicable still.
In what we show ourselves we are ignored.
The abyss from soul to soul cannot be bridged
By any skill of thought or trick of seeming.
Unto our very selves we are abridged
When we would utter to our thought our being.
We are our dreams of ourselves, souls by gleams,
And each to each other dreams of others’ dreams.
Fernando Pessoa

(o livro com os 35 sonetos, escritos em inglês pelo Fernando Pessoa está disponível para leitura ou Download aqui:
http://www.gutenberg.org/catalog/world/readfile?fk_files=274171 )

Ainda mais Contos de Mera Existência

segunda-feira, 23 de março de 2009

O ser humano se revela no trânsito

Há muito tempo estou ensaiando escrever sobre isso mas ainda não organizei todos os pensamentos. Em resumo, a maneira que a pessoa age e reage em relação aos outros carros, aos seus passageiros, aos pedestres... Observar o que te irrita no trânsito vale por um ano de análise. Pessoalmente me irrito com folgados, com pessoas que atravancam meu caminho e com obstáculos à hipermilhagem, que acredito, seja o conceito central a se considerar em uma nova etiqueta de trânsito.

Enfim, em breve.

quinta-feira, 19 de março de 2009

Inversão Darwiniana

Video muito legal sobre um conceito darwiniano aplicado à inversão das origens do que é doce, bonitinho, sexy e engraçado.
O conceito de "superestímulo" tb é um puta insight.


quarta-feira, 11 de março de 2009

Gatos discutindo a relação

facilmente o video mais engraçado do ano:

terça-feira, 10 de março de 2009

Cachaça



to pegando gosto pela coisa:
http://neural.stripgenerator.com/

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Pessoas que colocam faróis de xenônio nos carros merecem a morte

Venho por meio desta propor a formação de milícias que visem assassinar os donos de carro com farol xenônio. Tenho vários ódios de estimação mas este merece um pouco de proeminência.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Eugene encontra o Morgan Freeman das baratas

Eugene estava visitando Zurique quando uma estátua de zippo gigante caiu em sua patinha. Cucaracha que era, teve dificuldades de caminhar e não recebeu nenhuma ajuda dos locais, literalmente umas amebas. Mas se caminhar era difícil, dançar era impossível - sapatear sem uma pata impossibilitava o ritmo, e o ritmo, tipity tapity, é tudo.

Impossibilitado de dançar, Eugene ficou três dias no seu quarto de hotel em algo que parecia uma crise de abstinência. Ele sapateava desde antes do grande desastre nuclear, que ocorreu justamente quando tentava-se dispor das bombas remanescentes de forma segura. Durante esses três dias, Eugene pensou no zumbido constante da fábrica de cigarros onde vivia, que o pó de osso um dia iria acabar, e como o mundo era estranho sem vertebrados - ainda que seguro.

No quarto dia Eugene saiu do quarto e foi para a praça. Sua pata já estava bem melhor mas ele não sentia vontade de dançar. Ficou na praça alimentando as moscas, que habilmente preencheram o lugar dos pombos. Uma outra barata, bem cascuda e escura, sentou a seu lado e ambos ficaram algumas horas em silêncio. A outra barata tira debaixo da asa um mata-rato e leva à boca, mas não acende. Eugene quebra o silêncio "você não vai acender?". "Dá na mesma," responde o outro " eu tenho trauma. Um dia acendi um desses na beira do rio e o rio inteiro pegou fogo - foi onde queimei minhas antenas. Uma barata sem antenas, onde já se viu. É como um cachorro cego que caiu do caminhão de mudanças em meio a um tiroteio. Consegui decorar meia dúzia de caminhos e é neles que eu passo a vida. O principal deles é o caminho aqui pra praça", disse enquanto pegava um pó branco do chão "Aspartame. minha vida hoje é roubar das moscas o aspartame que a elas é jogado." Eugene oferece seu último pacotinho de adoçante. "Ciclamato? Nem morto alguém me vê comendo esse negócio, prefiro morrer de inanição." Eugene pensou em explicar como as baratas de hoje não morrem mais de inanição, que bactérias mutagênicas no sistema digestivo produzem toda a energia que uma barata precisa pra viver, teoricamente, pra sempre. Ao invés, esticou as patas e disse "Eugene". O outro permaneceu em silêncio. Ficam ali mais meia hora, olhando as moscas. "Bom, vou nessa. Boa sorte", disse Eugene. Sem se virar, o outro responde "boa... HAHAHAHAHAHAHAHA. Mais essa agora." Eugene já está a vários passos de distância quando o outro grita "Moleque? Aparece aqui amanhã!". Eugene dá de ombros e continua andando.

No caminho de volta, uma daquelas amebas impossivelmente supercrescidas tenta se comunicar com ele. Esta, além do tradicional dialeto primitivo, falava com sotaque. Tudo que ela falava soava como se fosse "Igoooooor". Eugene tentou passar pelo lado mas a ameba esticou uma protuberância, impedindo sua passagem. "escuta aqui, igor ou seja lá qual for seu nome estúpido, tira esse pseudópode do caminho ou você vai ganhar um amiguinho, o mini-igor. A membrana da ameba tremulava e começava a cercar Eugene. Ele deu meia volta e viu que estava cercado. Preparou-se pra voar, o que fazia muito raramente já que sempre ficava com labirintite e acabava perdido, mas suas patas estavam presas na gosma que emanava da ameba, que gemia "IIIIGOOOOORRRRR".

"Se eu fosse você entregava esse pacotinho que você tem aí". Era a barata da praça, que estava dentro de uma bolha no interior de uma das amebas. "Esses bichos amam adoçante, e acabam capturando baratas que tenham o mais tênue odor residual." Eugene responde "você me parece estranhamente calmo para alguém prestes a ser digerido". "E quem está sendo digerido?", diz, rompendo a bolha interna. "elas não conseguem fagocitar a gente. Em contra-partida é muito difícil escapar. Existem muitas baratas capturadas em amebas e se elas morrem de alguma coisa, é de tédio. Agora entrega o saquinho..."

As amebas estavam ficando muito agitadas. Eugene abriu o pacote e jogou em cima da ameba que continha a outra barata. As outras, com velocidade surpreendente, se jogaram em cima dela, digerindo sua membrana pra chegar ao precioso adoçante. A outra barata aproveitou pra escapar. "Que meleca! mas, sabe, se tivesse uma portinha, não seria um lugar tão desconfortável pra morar." Nascia uma idéia que iria afetar o futuro de todos eles. A outra barata estende as patas na direção errada e se apresenta: "Freeman". Eugene pergunta "Gordon ou Morgan?" mas não recebe resposta. Enquanto isso as amebas em seu frenesi alimentar uivam para a lua: "IGGOOOOOOOOOR".

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Mais contos de mera existencia

Youth and aging...