O William Burroughs da casa não sou eu, o que em diversos sentidos é bom mas não deixa de ser estranho afinal.
Peguei o controle remoto às oito e tirei de "os padrinhos mágicos" para colocar em "House". Do alto dos seus sete anos, a pequena Maria protestou com veemência. Foi convocada pela mãe, em tom severo, para o quarto. Não sei o que foi dito mas ela voltou um minuto depois, suave como seda e pediu pra assistir House junto comigo. Topei relutantemente. A doente era uma menina de cinco anos.
Em um dado momento a equipe médica estava prestes a amputar um braço e uma perna da criança. Falei pra Maria não olhar e ela obedeceu.
No intervalo ela pergunta "Re, o que aconteceu? eu fico curiosa quando não posso ver algo."
Cheio de dedos, respondi "Eles tinham que fazer um tratamento muito difícil"
"Que tratamento? Pode falar."
"Eles iam ter que tirar o braço dela"
"Só isso?"
"Como só isso? Eles iam tirar um braço e uma perna da menininha!"
"Ah, isso não é nada. Você precisa ver no final de 'Guerra nas Estrelas 3' o que eles fizeram com o pobre do Anakim!!"
Jamais imaginei que, frente a uma história dessas, a criança de sete anos fosse ficar blaseé como um autor beatnik enquanto eu me contorcia à medida que o bisturi se aproximava dos traços pontilhados com pincel atômico no braço da menina.