terça-feira, 16 de março de 2010

Lacrimejantes

As lágrimas podem ser colocadas em vidrinhos e transformadas em grandes coleções, uma imensidão de sabores-memórias, que trazem tudo de volta ao serem delicadamente colocadas, via conta-gotas, na ponta da língua, criando assim lágrimas de segunda geração, que vão para uma coleção à parte, afinal recordar é viver. Como não são coletadas no vácuo, cada lágrima é temperada com os arredores de sua produção. As lágrimas de escritório tem aquela mistura de divisória e pipoca de microondas, perceptíveis até em teste duplo-cego. As de casa tem traços de poliéster e estofamento. Os gourmets sabem: nada como uma lágrima ao ar-livre, com bouquet de clorofila e temperatura de sol. Essas valem tanto quanto trufas brancas. Exceto, é claro, quando suas origens forem insossas como um cisco no olho - nesse caso não valem nem o custo do vidrinho e da rolha



3 intromissões:

Neural disse...

(nasceu como um comentário, fincou raízes enquanto dormia e exigiu vida própria)

Carla disse...

lágrimas têm memória afetiva, um banco de dados talvez mais preciso que o DNA...

Ana Weiss disse...

Quanto do teu sal...