terça-feira, 5 de junho de 2007

Cachaça em: Abre-te Sésamo

Nas parcas vezes em que o Cachaça se dá o trabalho de visitar algum amigo ele acaba gerando prejuízo (material ou moral ou ambos). Há quem diga que melhor seria se nem tivesse aparecido. E há quem não diga nada mas concorde em silêncio, seja após o Cachaça sair em disparada sem lavar o próprio prato terminado o macarrão, seja por deixar um DVD alugado cair no limbo atrás do sofá que não move e não avisar ninguém. O leitor pode achar que também tem um amigo assim. O leitor não viu nada ainda.

Tudo começa com O Jovem. Ele crê que é assim chamado por ser o caçula da turma dos imbecis mas engana-se. O Jovem foi assim alcunhado por ser um prototípico jovem, de escrever poesia ao sonho de rockstar, além da óbvia parca idade. Quando Nelson Rodrigues escrevia sobre o "jovem de hoje", referia-se ao Jovem.

Em um fim-de-semana aleatório dormia o Jovem de favor na casa do Clark, ou mais exatamente no apto que o Clark dividia com uma menina que já não suportava nem o Jovem nem o Cachaça. Há quem diga que ela teria ótimas razões para seu profundo desgosto, como Jovem e Cachaça fazendo uma macarronada dominical na ausência do Clark e deixando uma montanha de louça, ou ainda uma ocasião em que deixaram o registro de água aberto apesar de flagrante vazamento, obrigando o síndico e o porteiro a arrombar o apartamento e fechar o registro. O Clark tê-la convidado um dia para um ménage não somou pontos, mas parece que ela pensou no caso e mas definitivamente desistiu quando viu a amiga que seria a terceira parte de tal associação.

Voltando ao cerne da nossa história: Após uma longa noite assistindo “Friends”, fumando orégano e comendo pizza e sorvete, sem vergonha alguma disso tudo, Clark despenca no quarto e Jovem e Cachaça em seus respectivos sofás. O Cachaça acorda de madrugada em meio à bagunça e a sujeira, e vestindo-se silenciosamente decidiu que não queria ter participação na arrumação daquela zona, indo embora na conveniente surdina enquanto dormiam todos.

Às quatro e meia da manhã o interfone toca com insistência bárbara, como a laertiana horda de bárbaros que vêm destruir a sociedade e a civilização. Atende o Jovem:
- Alô, é o Seu Clark?
- Não, aqui é o Seu Jovem
- Pô! Nervosinho esse seu amigo hein!
- O que aconteceu?
- Me xingou, brigou comigo e saiu batendo tudo aqui!
- Nossa que estranho, ele não é assim. Falo com o Clark amanhã sobre isso, ok?

O que é uma tremenda mentira, já que o Cachaça é assim mesmo e até podemos imaginá-lo abanando vigorosamente os braços durante a cena toda e ficando vermelho, como um pimentão epilético.

Pela manhã Jovem relata o ocorrido ao Clark que fica desesperado ao pensar em quantas de suas obsessões comportamentais teriam sido violadas no processo. Clark indaga por mais detalhes, com bastante veemência, exasperando o Jovem que já tinha dito todo o pouco que sabia. Indignado e achando que o jovem escondia algo, Clark vai se informar direto com o porteiro.

O Porteiro passa a escrachar o Clark antes mesmo dele sair do elevador e também durante todo o trajeto até a portaria, ainda que só chegando nesta Clark passa a efetivamente ouvir seus grunhidos furiosos. O porteiro parece culpá-lo por quase tudo inclusive do grande crime de ser amigo de alguém como o Cachaça.

Parece que o Cachá bateu o portão, presumidamente sem querer, e o porteiro reclamou com algo do tipo “Pô não precisa bater o portão!”. Contrariando o senso comum de não arrumar discussão com porteiro na madrugada, o Cachaça retruca sobre a má educação deste, tendo supostamente dito a frase “é por isso que sempre vai ser porteiro”. Desgostoso com o comentário o porteiro executa uma pequena vingança, deixando o Cachaça preso entre a porta do prédio e o portão da rua e dispensando-lhe uma longa preleção sobre educação e moral, e sobre como essas coisas estariam patentemente ausentes no Cachaça. Irritadiço no horário comercial, às 4h30 da manhã o Cachaça é uma bomba-relógio ambulante.

Mas a elucidante discussão entre o magistrado e o porteiro finalmente chega a um fim, e o último libera o primeiro. Ao sair Cachaça bate o portão com tanta força que a caixinha do interfone, aquela que tem as campainhas de todos os apartamentos, restou escancarada com sua entranhas eletrônicas expostas. Mais tarde na madrugada comea a chover muito, o que acaba danificando de modo permanente todo o sistema de interfone do prédio.

O pobre do Clark supostamente arcou com mais esse prejuízo, já que Cachaça, mesmo abastado, teria contado uma versão completamente diferente da história, se isentando de culpa, recusando-se a pagar e ainda ameaçando processar o prédio. Há quem diga que o Cachaça por fim pagou o interfone, mas pode ser lenda da internet. Há quem diga que o Clark pagou do próprio bolso, mas também pode ser lenda da internet. De qualquer maneira, nos dois meses em que a fatura não esteve paga, um mal estar cresceu entre Clark e sua colega de apartamento, bem como com o staff do prédio, de modo que fizeram um abaixo-assinado pedindo a saída imediata de Clark do dito edifício.

Desde então as relações entre Clark e Cachaça estão estremecidas, mas dizem que o Clark não deixa de importunar o Jovem, recapitulando os eventos da noite bem como toda sua relação com o Cachaça, entremeando-os com perguntas tipo "Eu tenho razão, não tenho?" e "Ele está errado, não está?".

Fingindo surpresa com o abaixo-assinado e tentando esconder seu nome, que era a primeira assinatura, a colega terminou por expulsar Clark do apartamento, que se viu reduzido a morar novamente com a mãe. Por alguma retribuição cósmica a mãe do Cachaça trocou as fechaduras e foi viajar, deixando todas as coisas do Cachaça do lado de fora inclusive o próprio. Depois de bater incessantemente na porta e acabar desistindo, Cachaça foi procurar outro lugar pra morar também.

Acabou morando na casa do Judeu, que não teve nada a ver com a história mas acabou arcando com suas piores conseqüências. Por mistérios insondáveis, o interfone da casa do Judeu não apenas funciona como toca diariamente às 4h30 da manhã.

6 intromissões:

Anônimo disse...

Vc acha que um mero "(em breve)" vai fazer ceder a minha pressão?

Anônimo disse...

YEAHHHHHHHHHHHHHH!!!! Agora sim!!!
Ficou MUUUUUUUUUUUUUUITO melhor que o meu, ainda que eu reconheça muita coisa nitidamente inspirada no meu...
Mas admito, o seu é mais bonito.
ps.: Esse Jovem é um imbecillllll de marca maior, mas o que o salva é que os amigos são muuuuuuito mais, e ele passa despercebido!

Neural disse...

Hey Fubu,
demorou mas saiu!
Depois do fracasso da campanha Pague-dez, tenho tido que trabalhar de verdade. O texto que vc mandou para servir de base pra essa história tinha partes boas... ou seja, onde escreve-se inspirado leia-se homenagem. rs.

Agora esse Jovem... tsk tsk. O que o salva no nosso universo fictício é que não haja mais como ele, ou assim esperamos...

André Palhano disse...

Digníssimo de nota!!

pobre Judeu...

Anônimo disse...

hauahuahauahuahauahauahuahaua

vejo o cachaça em alguns anos bloqueando a publicação completa e reciclando o papel (e não apenas a parte q explica o porquê de seu joelho inoperante).
Melhor: vejo-o picotando furiosamente as edições,em meio a resmungos.
Mas dormindo antes do fim.

Neural disse...

O Cachaça, se existisse, seria o tipo de pessoa que não lê absolutamente nada que não tenha lido antes até os 17 anos. Tb não seria tão afeito a reciclagem, creio eu...