terça-feira, 3 de julho de 2007

tua última quimera

Versos Íntimos é um dos melhores poemas do insuperável Augusto dos Anjos, mas é também dos mais conhecidos e abusados pela plebe. Budismo moderno então, ainda que fenomenal, caiu nas garras vis do arnaldo antunes. E para preencher o vácuo abismal, aqui vão dois sonetos dentre meus preferidos. Vale dizer que a Árvore da Serra não é um poema ecológico, ok?

A árvore da serra

— As árvores, meu filho, não têm alma!
E esta árvore me serve de empecilho...
É preciso cortá-la, pois, meu filho,
Para que eu tenha uma velhice calma!

— Meu pai, por que sua ira não se acalma?!
Não vê que em tudo existe o mesmo brilho?!
Deus pos almas nos cedros... no junquilho...
Esta árvore, meu pai, possui minh'alma! ...

— Disse — e ajoelhou-se, numa rogativa:
«Não mate a árvore, pai, para que eu viva!»
E quando a árvore, olhando a pátria serra,

Caiu aos golpes do machado bronco,
O moço triste se abraçou com o tronco
E nunca mais se levantou da terra!
E este é o corrupião. A primeira frase do poema "Escaveirado corrupião idiota" me lembra carinhosamente dos meus amigos, mais pelo tom que pelo conteúdo, já que meus amigos não são de forma alguma corrupiões e apresentam vagos traços de cerebelo.

O corrupião

Escaveirado corrupião idiota,
Olha a atmosfera livre, o amplo éter belo,
E a alga criptógama e a úsnea e o cogumelo,
Que do fundo do chão todo o ano brota!

Mas a ânsia de alto voar, de à antiga rota
Voar, não tens mais! E pois, preto e amarelo,
Pões-te a assobiar, bruto, sem cerebelo
A gargalhada da última derrota!

A gaiola aboliu tua vontade.
Tu nunca mais verás a liberdade! ...
Ah! Tu somente ainda és igual a mim.

Continua a comer teu milho alpiste.
Foi este mundo que me fez tão triste,
Foi a gaiola que te pôs assim!

1 intromissões:

Osiris disse...

parabens pelo blog. quanto ao documentario sobre bukwosky, nao conheço. mas agradeço a dica...
um abraço