sexta-feira, 6 de abril de 2007

Olha só, eu já fui um jovem romântico.

Em, sei la, 1998, deslizei a carta abaixo pela fresta da porta de uma vizinha de prédio que vi uma vez só. É ainda dos tempos de Mateus Grou:
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Um prédio são muitas caixinhas de ar envoltas por cimento.
Eu moro neste aqui. Minha caixinha tem como nome um número, que é 151.
Números dizem tão pouco... e nomes, dizem mais? Não sabendo um nome próprio, este torna-se uma impressão. O nome das pessoas que não conhecemos é uma sensação, um sentido, mais que uma idéia ou substantivo.

Elevadores são máquinas que convertem uma dança de elétrons em movimento vertical.
Outro dia estava em um desses, levando duas cadeiras de piscina para a laje do prédio. Lá o pôr-do-sol nos aguardava, a mim e ao amigo, cercado de nuvens vagando o céu com suas formas e cores realçadas. Surpreendente que fosse em São Paulo...

Mas eu subia no elevador, com o amigo e as cadeiras.
As portas se abriram.
Um cão com cheiro de infância, de lacinhos e de cão (ou talvez não tivesse cheiro algum, ou só de cão... acho até que tinha meu nariz entupido ) mas enfim, abriram-se as portas. O cão era o prenúncio da taquicardia.

Vi um par de olhos entrando no elevador. Levou algum tempo até notar que estavam acompanhados de um rosto, um corpo, cachinhos.
Os elétrons do elevador aparentemente valsavam, ou faziam alguma estranha dança russa, mas o nível do mar afastava-se gradualmente...

Não saberia medir o tempo nesse momento. Nem a vibração do quartzo do relógio, nem as batidas de coração, minhas nem do cão. A estas alturas gerações poderiam estar transcorrendo, ou fosse tudo entre uma batida e outra. O tempo não passa de sensação também...

O tempo eram os olhos. Acho que eram verdes.
(Podiam ser azuis... seu impacto não era cromático afinal)

E a valsa de elétrons, que também podia bem ser um cancã, parou. Chão se alinhou com chão. Abri a porta cavalheirescamente, desceram cão, olhos e tudo. . A cadeira despencou dentro do elevador, o amigo riu e o elevador volta a subir antes que ela tivesse um nome, apenas uma sensação que seria um nome na língua dos sentidos.

Escrevo sentado no ar, na minha caixinha nas alturas, tendo embaixo de mim apenas uma cadeira, o chão, mais 14 andares, alguns carros, cimento, canos, minhoquinhas, um lençol d'água, algum petróleo que o maluf nunca achou e o centro da terra, que é de pedra derretida. Embaixo disso tem tudo isso ao contrário, menos eu.

Para todo os efeitos, encontro-me viajando pelo espaço, em torno do sol e do centro da via láctea, tendo apenas uma atmosfera em cima e um planeta embaixo. Mas que importa?
Não consegui sair daquele elevador ainda...

5 intromissões:

Anônimo disse...

HAHAHAHAHHAHAHAHAHA

Confesso que tbm jah fiz isso, mas num deu resultado. Pra vc deu?

Neural disse...

deu eh muito trabalho, mas muito trabalho, para finalmente um resultado levemente desapontador...

Anônimo disse...

hahaha Levemente desapontador deve ter sido uma ignorada da mina.

Anônimo disse...

vai ver que ela não passou do terceiro parágrafo, ficou achando que era pro cachorrinho...

Neural disse...

ou mesmo talvez fosse analfabeta a imbecil.