sexta-feira, 27 de abril de 2007

um brinde ao seu acidente!

tintin!
Estava na casa da Andrea tomando um vinho e contando para o roomate dela sobre o acidente quando nos demos conta que faziam exatos seis meses. Fizemos um brinde respeitoso. A noite prosseguiu brevemente e antes da meia-noite já estava de partida para casa, a quatro quarteirões dali. Tive uma ótima reunião nesse dia e estava particularmente feliz. Andava rápido simplesmente por ter descoberto que consigo.

Quando estou debaixo da ponte olho para trás e vejo dois figuras a uns vinte metros. Fiquei quase envergonhado de estar andando rápido. Não pensei que fosse nada, mas um sexto sentido me faz andar ainda mais rápido. Bem rápido. Demais até dadas minhas limitações.

Chego perto de casa e sei que preciso entrar o quanto antes. Primeiro dilema: a porta tem duas fechaduras, a de cima e da maçaneta. Em geral precisa abrir a de cima primeiro, mas as vezes ja esta aberta. Resolvi arriscar e vou direto na de baixo. A porta não abre e os dois caras me encurralam na porta.

O primeiro mostra uma arma (uma pistola automática, pelo pouco que sei). Ele meio que esconde a arma, não sei se pra ninguém ver que ele esta armado ou porque a arma fosse falsa.
Novamente me veio a sensação que dessa vez eu me ferrei. Será que a cada seis meses tem disso?
E o cara armado diz em um tom pouco simpático:
"DONT TURN THIS INTO A HOMICIDE!!"
ao que, surpreso, respondo:
"YOU dont turn this into a homicide!"

Quando a coisa parece ruim o suficiente, o cara grita:
"now open the door!"
open the door? imediatamente me veio a cena do motel em Cidade de Deus. Armados e uma vez la dentro eles nao teriam pressa de sair, podendo roubar matar e estuprar os hóspedes da casa. Tive um feeling que eles não deveriam entrar de jeito nenhum. Por outro lado o cara estava armado. Ele grita de novo e gesticula com a arma, "open the door!!".

tentando ganhar tempo, em vez de abrir a porta resolvo agir como seria de se esperar de alguem na minha situação, e em vez de abrir a porta digo, exagerando o tom de medo que de fato eu sentia: "please dont hurt me!". Ele pega as chaves e tenta ele mesmo abrir a porta. Enquanto isso o outro pega minha carteira e celular do meu bolso. O primeiro cara não consegue abrir a porta (tres chaves, duas fechaduras) e grita novamente, ainda mais impaciente "open the fucking door!" . Eu tinha esse feeling que se eles entrassem a situação ia descabelar loucamente, e ja que ele ja estava tendo dificuldade com as chaves, eu respondi: "man you have the keys just open the door". Ele tenta mais um pouco e absolutamente do nada o outro me da um senhor murro na cara. Quando dou por mim eles ja foram. Fico mais uns minutos do lado de fora, encolhido no pe da porta e depois entro em casa.

(fim da parte um)

Parte dois:
Entro em casa em síndrome do stress pós-traumático. Minha mão treme. Chamo o Pablo e a Veronica mas ninguém responde, devem estar fora ou dormindo. Chamo o gato mas o gato também não vem. Teria sido bom se viesse.

Vou para o meu quarto e choro um pouco. depois começo a pensar: e se fui roubado por uma arma falsa? E se tivesse dado uma super muca na cara do armado, quando a arma estava apontada pro chão. Capaz que eu nao me saísse mal nessa briga se a arma fosse falsa. Não reagi por duas razões: um chute light na canela esquerda ia romper minha perna em dois. E, claro, vai que a arma não era de brinquedo? não é poker pra ficar chamando blefe.

Resolvo sair e procurar minhas coisas, que eles poderiam ter descartado pelo caminho. Ja na porta achei que a camiseta vermelha era muito chamativa, troquei pela preta e coloquei meu casaco de wolverine. Pus a mão no bolso, fazendo um volume e fui pra rua. Minha lógica era: se o cara saiu na rua depois daquilo com um volume no bolso deve estar armado nao vamos mexer com ele. Logo me dei conta da fragilidade do meu argumento (assim como da minha pessoa) e volto rapidinho pra casa. Fico sentado na cama ate o dia amanhecer, depois durmo vestido por umas duas horas.

(fim da parte dois)
parte três
Quando começa o movimento na casa vou pra sala. Pablo nota minha expressão e inchaço e pergunta o que houve. Conto e ele me da um abraço. Decidimos chamar a policia. Meu rosto nem dói o tempo todo, na verdade só dói em três momento: quando eu como, falo ou respiro.
Quando a policia esta pra chegar a veronica diz pro pablo: se a policia vai entrar aqui eles vão ter que tirar o sapato também!!! Olho pro Pablo e decidimos que eh melhor falar la fora. Obviamente estou no banheiro quando eles chegam. Conto minha historia com detalhes. O policial faz um monte de perguntas. Muitas delas não tinham nada a ver com nada. Ele pergunta se a varig ainda existe, eu digo que mais ou menos. Ele conta que costumava abastecer os avioes da varig com combustivel, antes de ser policial. Depois de quase duas horas eles vao embora. Peco dinheiro emprestado pra tomar o metro e vou pro trabalho. Faco o mesmo caminho que na noite anterior. Embaixo da ponte, perto da cerca, o que encontro? meu celular. Tendo cancelado os cartoes de crédito me dou conta que fui esmurrado por dez dolares, o que tinha na carteira. E possivelmente por ter dificultado o acesso a casa e talvez prevenido uma tragédia.

No trabalho começo a sentir mais dor, mal consigo abrir a boca. Resolvo ir pra casa, compro um suco de acai com banana e morango tamanho xxxl. Faço o mesmo caminho mais uma vez e desta encontro, perto de onde estava o telefone, minha tabela de senhas do banco real. cehgo em casa e digo: se eu disser que encontrei os caras e esmurrei eles você acredita? Pablo e veronica riem e dizem que não . E se eu mostrar isso? e ponho meu telefone na mesa. Eles arregalam os olhos e dizem uau, mas eu logo confesso que achei no chao. O telefone da casa toca, a policia quer falar comigo.

(fim da parte tres)
Parte quatro

"Mr kaufmann? aqui éda policia. queremos que você venha ate o precinto"
"Putz. onde fica esse precinto?"
"Frefrons." podia as well ser esquina da walk com dont walk. "Mas eh muito importante que voce venha. tem alguém que pode te trazer?" eu digo que nao. E que estou cheio de metal na perna, e pergunto se tem ônibus pra la. Mais dez minutos disso e consigo uma carona com a policia ate a delegacia.

A delegacia e ultra tipicamente delegacia bagun'cada e suja de filme americano, e as portas das salas dos detetives parecem portas de cadeia e fico nervoso ao entra nela. Por incrível que pareça os caras brincam de bad cop good cop ate com as vitimas!
"Porque você só avisou no dia seguinte??" Pergunta o bad
"Eu estava sem telefone e muito abalado!" respondo
" calma esta tudo bem" diz o good
e assim vai.
Depois de explicar vagarosamente minha história muitas vezes, e ele não entender pontos centrais dela, passamos pelo sofrido processo de descrever os agressores.

Me vi numa situação desconfortável, tendo sido atacado por dois estereotipos e quase incapaz de descreve-los. Não tão desconfortável quanto passar as próximas horas vendo mugshots. O computador é lerdo, tem fotos repetidas, e nunca vi tanta gente feia junta. Muito feia. não acredito em antropometria, mas pq todos tao feios? Eram tao feios que nao conseguiram emprego e foram pro crime? Enfim, hoooooras de mugshots.

peço uma carona pra casa e pergunto: quais as chances de eu ter levado um tiro?
O detetive diz: "Nessa vizinhança? Deixa eu ver. Umas cinco pessoas são assassinadas com arma de fogo la por ano" Sendo de Sao Paulo, eu pensei, só? Mas fazendo as contas é um assassinado a cada dois meses. Vai que fazia dois meses desde o último. Aí ele diz: até que tinha chance sim. 50-50. Se você tivesse reagido e a arma fosse de verdade eles certamente teriam atirado.

(fim da parte quatro)

12 intromissões:

Anônimo disse...

Caralho, sem sacanagem agora... Fico feliz que esteja bem, amiguinho.. Foi foda, hein?! Mais do que imaginei... Eu te daria um abraço tbm (mas faria alguma piadinha na sequência)...

Neural disse...

pode fazer a piada primeiro e deixar o abraço pro sabado ímpar que é dia de banho...

Neural disse...

pior essa: o tequila, que não é meu leitor e recentemente confessou que é garoto de programa além de advogado criminal, teceu o seguinte e único comentário: "Você deu meu cartão pra eles?"

Anônimo disse...

Fiquei chocada...e também emocionada com seu relato. Viva os amigos que abraçam! Passa arnica (tintura ou pomada) no rosto...beijo

Anônimo disse...

e um abraço :-)

Neural disse...

num tem arnica! e engraçado, conheci o Pablo duas semanas antes. E ele é argentino. Não esperava esse gesto e fiquei emocionado... não que já não estivesse. um beijo e um abraço!

Anônimo disse...

Então vou te mandar arnica...deixa seu endereço no meu e-mail ou MSN!
Te mando rapidinho! Beijo

Neural disse...

ate chegar ja voltei, mas thanks anyway!

Unknown disse...

vc precisa é se benzer. :-P

Neural disse...

Pensei sobre isso. Por outro lado as criancinhas da africa sao benzidas todo dia...

Isabel Froes disse...

Renato, jøa que estøa tudo bem, outro comentøario, vc sovreu um acidente de moto høa 6 meses??? Menino... T'a n ahora de ir `a Bahia dar uma benzida! ;)
Fora isso, o texto est'a 'otimo e a parte 3 e 4 bem engra'cadas... A da antropometria.. estou rindo ateh agora!
Saudades e beijos,
Bel

Neural disse...

Izzy, um prazer ver você por aqui, em especial com esses seus ø's dinamarqueses. Lovely!