quinta-feira, 31 de agosto de 2006

Detalhes tão pequenos de nós dois

Meu sobrinho, nem um dia de vida e já expressa sua aptidão para filosofia.
Nesta foto, vemos Samuel, entreabrindo um olho pra ver onde veio parar.
Talvez uma leve dúvida existencial:
"Terei acertado em sair do útero?
Movimentado por aqui... meio frio também.
E quem são essas pessoas??? Por que me olham tanto?"



E nesta outra, o pequeno tubarãozinho lindo dormindo como um bebê.
Nascer não é fácil, deve cansar pra burro.
Você passa nove meses querendo sair e o resto da vida tentando voltar.
Queria dizer que ele parece comigo, mas olhando bem acho que parece o Jacques.
Ou o Joelho do Jacques, só que mais bonito.

quarta-feira, 30 de agosto de 2006

Ele nasceu!!!!!!

Meu sobrinho. que emoção.
O primeiro da nova geração do meu lado da família.
Samuel Kaufmann Behar.
(Que chamarei de Sammy K.)
Com esse nariz, só podia ser filho da Georgia e do Larry mesmo.
Quando ele nasceu, aposto que os médicos gritaram: tubarão!!!
Meu sobrinho, que orgulho de você...
Seja feliz e conte com seu tio!
Geo e Larry: love you!!
ps: impagável a cara da minha mãe (e do sammy no colo dela!).




terça-feira, 29 de agosto de 2006

Got Milk?

Reunião com Divina Comédia, aliás ótima. Ligeiramente engraçada.
Na sala de espera essa estatueta me chamou atenção.
Ela e também seu admirador, que a deve estar estar seguindo desde o mamãozal.
Qualquer hora escrevo uma história com essa dupla.

Quito, o pequeno Selvagem





Lorde Mao






Tues Day

But feels like a monday, handles like a monday.
Hedgehog Monday with no moon.

segunda-feira, 28 de agosto de 2006

As duas últimas...

...fotos com o cabelo ainda comprido.
Agora é frio na nuca.

E essa moça bonita ao lado é a minha querida amiga Tatinha...


sexta-feira, 25 de agosto de 2006

Plutinho e seus companheiros

Plutão, cujo título de planeta sempre me causou estranheza (sendo ele menor que muita Lua por aí) passa a ser Plutinho e vai sentar-se à mesa das crianças.

Outros três planetas entram para a família solar: Xena, Hércules e Beterraba.

E agora, astrólogos? Quem vai definir o novo regente de escorpião? A astrologia volta ao seu estado pré-1930, quando descobriram Plutão? E quem afinal decidiu que plutão ia reger isso ou aquilo? A astrologia sempre foi baseada no céu visível, mas descobertas da ciência no último milênio apresentaram uma série de corpos invisíveis que foram incorporados, como plutão. O que houve foi uma crendice, a astrologia, tentando emprestar status científico da astronomia: "Veja, temos nomes parecidos, então ambos somos ciências". O determinismo implícito na astrologia me dá calafrios. Se já é difícil prever, digamos, o clima, que é uma coisa que existe, imagine prever os destinos da humanidade baseado na influência de estrelas, a incontáveis anos-luz de distância, na vida de cada ser humano.

"Leão: uma promoção pode estar no seu caminho" Valeria pra meio bilhão de pessoas, nem deve ter tanto emprego no mundo. Isso pra horóscopo. E mapa astral? Uma variação de cinco minutos no horário de nascimento já afeta o mapa. O relógio atômico é recente, de modo que mesmo quando já havia relógios, e a astrologia é supostamente anterior aos relógios, não tinha como sincronizar, exceto talvez com o relógio da praça, ou seja, já era sorte saber a hora que nasceu, ou mesmo se era dia ou noite. Quem incluiu minutos na astrologia e quando? E a astrolgia (que conhecemos, foi inventada ou adaptada por quem? Não venham me dizer que a astrologia não foi inventada e sim descoberta que eu tenho um treco. E agora, além de Plutão ter sido barrado no clube, temos os novos planetas, que sabemos ser Xena, Hércules e Beterraba.

E Xena, vai reger alguma coisa?
Talvez virgem, já que princesas guerreiras têm que ser castas, pelo que entendi do seriado. Seriado que mesmo com pessoas voando, sutiãs de cobre e outras bizarrices, é mais crível que astrologia.

E Beterraba?
Alguém pode me dizer que signo ou aspectos serão regidos pelo Planeta Beterraba?
"Beterraba entra no céu de Brigadeiro, em quadratura com Tumor, propiciando aos nativos dos signos de Plástico um forte auspício Dadaísta. Evitar usar roupa verde. Numero da sorte 32".

Achei que não.

Nietzche sobre metafísica e astrologia:

"É provável que os objetos da sensibilidade religiosa, moral e estética pertençam apenas à superfície das coisas, enquanto o ser humano gosta de crer que pelo menos nisso ele toca o coração do mundo; ele se engana porque essas coisas o fazem tão bem-aventurado e tão profundamente infeliz, e portanto aí mostra o mesmo orgulho que na astrologia: Esta acredita que o céu estrelado gira em torno do destino do homem , o homem moral pressupõe que aquilo que está em seu coração deva ser também a essência e o coração das coisas"

né?

quinta-feira, 24 de agosto de 2006

Rascunho -

Rascunho foi um dos pontos altos da minha breve "carreira" no teatro. Fiz duas optativas na PUC com o genial Cassiano Sydow Quilici, "Iniciação à comédia" e "A arte do ator e a pesquisa". A turma deste último escolheu essa peça como trabalho final da classe, que a encenou brilhantemente apesar da quase total falta de ensaios. Depois viramos o grupo de teatro nômade, em que buscávamos o Simorg em meio a poemas, por mais um ano ou dois, no parque da água branca. Bons tempos.

RASCUNHO
Personagens (por ordem de entrada):

Autor
Motorista 1
Motorista 2
Assaltante
Mulher
Homem
Estátua
Anaximandro
A Mãe
Cachaça (antecessor do atual)
Troglodita 1
Troglodita 2
Autor 2
Autor 3


Autor está sentado. em sua mesa, uma máquina de escrever. O papel está em branco. A inação dói. Parece emburrar-se. Explode:

Autor:
• Merda! Não sai nada. Sei lá. Vou andar. Talvez me inspire por aí.

Anda pelo palco, perdido em seu alheamento. Passa por uma batida de carro seguida de briga, mal olha. A batida: dois atores se trombando, como clowns agressivos. Estão indignados e xingam-se; beirando a agressão física.

Autor continua andando, introspectivo, buscando inspiração. Da sua direita surge um assaltante, tenso, que encosta um revólver em sua cabeça. Autor continua andando e o assaltante fica andando de lado, meio aos pulinhos, acompanhando seu passo.

Autor anda, desinteressado. Dá uma olhadinha, meio de lado, sem falar nada.

Assaltante:
• Aí tio!! Assalto!!

Autor não pára nem olha.

• Tio!!! Assalto, caralho!!, pô?! Tô te robando, sacô?

O autor apenas bate com as costas da mão direita no revólver, como quem espanta um mosquito. O assaltante fica onde está e Autor segue. O assaltante tenta assaltar os motoristas e toma uma surra (cena mímica, no fundo)

No caminho do autor há uma mulher grávida deitada no chão, agarrada a um dos pés de um homem. O Homem tenta andar e arrasta a mulher junto. Ela não solta.

Homem, mal humorado:
• Porra, mulher, larga do meu pé!!
Mulher, suplicante:
• Mas meu bem!
Homem, quase que consigo mesmo:
• Não sei onde estava com a cabeça. Não sei! (mais baixo) Bem que minha mãe me avisou... (devaneando) ah, mamãe...

Autor tropeça na barriga da grávida mas consegue retomar o equilíbrio. Continua seu caminho. Comenta consigo mesmo:

• Mm. Bonito sapato.

O ladrão , bastante arrebentado, passa ao lado do casal, observa a cena e deita-se ao lado da mulher, segurando a outra perna do homem, que continua tentando andar, agora arrastando os dois.

Autor entra em casa, batendo a porta. Senta-se. Põe os pés na mesa, tira o sapato, as meias e coça entre os dedos do pé. Depois cheira a ponta dos dedos da mão. Sorri, faz cara de iluminado e começa a datilografar. As luzes se apagam . (som de datilografia)

Acende um foco de luz direcionado para Estátua, que está imóvel em cima de um pedestal, em pose de estátua, molhada e excessivamente recoberta de talco.
(As luzes aumentam gradativamente, revelando 3 pessoas à volta de Estátua.)
Anaximandro está sentado, emburrado. A Mãe tem tiques nervosos e anda em vai e vem. Cachaça cambaleia.

Anaximandro:
• Não gosto. Falta proporção. Meu Deus!

Mãe:
• Como?? Não seja bobo, meu filho. Veja, é perfeita!

Anaximandro:
• Proporção, pombas. Não entende o que eu digo, não? Nem acredito que foi daí que eu vim.
Cachaça, provocador
• Puxaste o Leiteiro!!
A mãe olha feio para Cachaça. Vira-se para Anaximandro:
• Mas Anaximandro, queridinho, não. Afinal, qual o problema?

Anaximandro:
• Não serve e pronto. Ela não tem... Como é que se fala? Não tem... ah, sei lá. Quero outra. Ouviu? Outra!

Anaximandro afunda a cara entre as mãos. A Mãe está aflita e anda para lá e para cá, se curvando um pouco, desgostosa e depois reassumindo a postura ereta.

Cachaça, falando baixo:
• Pois eu gostei. Gostei mesmo. (em tom de confidência) Se ele não quer... Besta. Não sabe aproveitar. Se fosse comigo eu.

Sorri de modo sóbrio. Discretamente se aproxima da estátua, estende a mão hesitante e acompanha o contorno do corpo da estátua, mas não a toca. Recolhe a mão de modo rápido, envergonhado A estátua olha para ele, mas quando ele olha ela volta imediatamente à posição anterior

A Mãe, levantando a coluna, para Anaximandro
• É isso mesmo. Você está exagerando só porque ela é...

Anaximandro interrompe a Mãe levantando-se rapidamente. Toma fôlego para responder.
Nisso, a estátua desce furibunda, com passos curtos e velozes. Estátua
• Quer saber? (levanta o punho cerrado e o chacoalha no ar) Vão todos à merda!!! Seus doentes!! (vira-se para a mãe) A Senhora, hem! Nunca pensei. Que roubada.

Ao passar por Anaximandro, empurra-o com força, usando as duas mãos e o peso do corpo. Cachaça corre atrás dela. Pega sua mão e dá um beijo estalado. Ela empurra a mão para a frente, transformando o movimento em um tipo de soco curto na boca do rapaz

O palco escurece enquanto a luz se acende sobre o Autor, que está arrancando o papel da máquina e amassando-o.

Autor:
• Bóste!

Põe outro papel na máquina e recomeça a escrever.
(som de datilografia)
As luzes se apagam sobre Autor e se acendem no outro canto do palco. (Sobe uma música tribal.)
Dois selvagens vêm andando, com jeito de primatas.

Troglodita 1:
• Quer saber? Odeio isso de sê aborígene!! Odeio. É um pesadelo!

Troglodita 2:
• UGA!

Troglodita 1:
• Odeio! Porque não nasci pigmeu, tatu, bosquímano?! (bate no próprio rosto) Não sei o que é pior! Você ou os mosquitos. (grita) AAAArghhh! Eu Sou alérgico!

Troglodita 2 cutuca o outro interrogativamente com um pedaço de pau:
• AGU?

Troglodita 1 arranca o objeto da mão do outro troglodita e diz:
• E você! Pra lá e para cá com esse pedaço de pau torto! Seu imbecil!

Sem deixar de encarar o companheiro, atira o objeto por trás do ombro, desafiadoramente. Troglodita 1:• Sua mãe é um canguru perneta!! E seu pai... UUGH

Nesse momento profere um UGH gutural e cai para frente, desmaiado, como se tivesse sido atingido violentamente na nuca. O outro pega o objeto no chão, próximo ao corpo caído, sorri e o atira na direção da platéia, em um movimento exagerado. Põe a mão reta sobre o olho, como viseira, forçando a vista. Depois recua o corpo e bate a mão espalmada sobre a testa.

A cena se congela enquanto um spot se acende sobre o Autor.
Ele levanta, anda até a cena e olha os dois trogloditas congelados com olhar de profunda reprovação. Chuta a canela do que está em pé , congelado, e volta a sentar-se na frente da máquina. Faz uma pausa. Arranca o papel. Autor:
• Não...
Enquanto amassa o papel, apagam-se as luzes sobre os trogloditas.
.Está atormentado. Súbito grita, num crescendo de raiva.

Autor:
• Não sirvo para isso!! Vou morrer de fome!! A única coisa que não vendi ainda foi a máquina!! Pára e olha para a máquina. Levanta a máquina em etapas, a cada uma delas fala uma palavra, apesar do grande esforço físico. Autor:
• MÁQUINA
• MALDITA
• Gghhhhhhh

Tendo a pesada máquina sobre a cabeça e prestes a atirá-la na platéia, congela no meio do movimento. Um spot se acende sobre outro sujeito, sentado em frente a uma outra máquina de escrever em outra parte do palco.

Autor 2 apaga o cigarro. Autor2:
• Acabou a inspiração. Talvez surja alguma por aí.

Amassa o papel. Com isso apagam-se as luzes sobre o primeiro Autor. Sai lentamente. Atravessa a rua sem olhar, obrigando Motorista 1 a se desviar rapidamente. O motorista põe a cabeça para fora e vira-se para xingar o autor, com o carro em movimento. Acaba trombando com o Motorista 2. Rolam no chão. Levantam e discutem, passando a brigar fisicamente. À medida que o Autor 2 se afasta, as luzes vão se apagando sobre as cenas.
Ele encontra uma mulher grávida e um homem agarrados aos pés do Assaltante. Quando o assaltante tenta andar, arrasta os dois pelo chão.

O assaltante vira-se e fala aos dois Assaltante:
• Solta!!!!
Os dois balançam rápido a cabeça, negativamente. Assaltante:
• Mas tá coçando! Peraí. Levanta a perna em que a mulher segurava, movimento brusco. Coça a canela. Põe a perna de volta, encaixando na mão da mulher.

Autor 2 passa por cima deles com um pulo casual, anda uns dois metros e pára. Dá meia volta. Enfia o dedo em riste na cara do assaltante e diz, em tom grave. Autor2:
• Mas Você! Te conheço!
O assaltante põe o dedo na boca, fazendo shhh e mímica de "não espalha". A cena congela no meio da frase.
Acende-se um spot sobre Autor 3, em um canto distante do palco. Autor 3 arranca o papel da máquina de escrever, dá uma lida e diz

Autor3:
• É pior que horrível...

Arranca o papel da máquina, amassa e joga longe. Nisso apagam-se as luzes sobre o Autor 2. Fuma um cigarro até a metade. Levanta, vai buscar o papel, desamassa-o e começa a ler novamente.
• Mmm..!

As luzes se acendem novamente sobre o Autor 2, que está sentado em frente à sua máquina.
Autor 2 repete a exata movimentação e a encenação de seu momento anterior. Autor2:
• Acabou a inspiração. Talvez surja alguma por aí.

Levanta-se, dá quatro passos e é golpeado violentamente na nuca, caindo no chão como se atingido por um bumerangue.
Troglodita 2 surge do outro lado do palco, andando de modo sacolejante e primitivo, como um selvagem que procura algo. Chega perto do Autor 2 caído e acha seu objeto ali próximo. Está sério. Olha para um lado e para outro.
(Sobe lentamente a manjada música do 2001- Uma odisséia no espaço, tema do monolito.) O troglodita joga o objeto por detrás do ombro e senta-se no lugar do Autor. Olha para um lado e para outro. Começa a datilografar hesitante, e depois com velocidade e concentração. A música do 2001 retumba pela sala.
O troglodita digita freneticamente.
Apagam-se todas as luzes.
Fade na música. Pausa. No escuro, ouve-se a voz gutural do troglodita:

• Merda!!

FIM


Heavy Metal Thunder



segunda-feira, 21 de agosto de 2006

Mao-Tse-Tung, o Príncipe entre os gatos(2)

Aqui vai uma sequência de fotos, em homenagem ao meu pequeno herói felino...





Mao-Tse-Tung, o Príncipe entre os gatos

Uma verdadeira alma antiga. Além de seus dons de comunicação, Dunguinho recentemente me salvou da ameaça invisível. Ficou dando patadas numa parte vazia da cama, pensei será que endoideceu? Ou viu um espírito? Dizem que gatos vêem coisas. Então já estava crente que ele estava atacando um "encosto". Levanto a colcha e mostro pra ele, tá vendo, não tem nada. Ele olha pra colcha e dá patadas no cobertor. Resolvo investigar a fundo e desfaço a cama toda.

Entre o lençol e o primeiro cobertor tinha um formigão gigante, com mandíbulas ameaçadoras e um ferrão samurai. Pego a ameaça e jogo na privada, depois volto pra cama e fico olhando, com absoluto espanto, para o ar de satisfação do meu pequeno herói.



quinta-feira, 17 de agosto de 2006

Cachaça: Balada que é um Sonho

Uma pergunta muito popular tem sido:
“E quando o Cachaça não está na Suruba, como ele se diverte?”

Um bom exemplo são as baladas que ele faz com seu amigo Clark.

Cachaça e Clark são convidados pra uma festa. Ou melhor, uma amiga da dona da festa resolve convidar o Clark, que resolve convidar o Cachaça, que adora um convite mesmo de terceira geração

Ficaram de encontrar a moça da festa do lado de fora. Esperam e nada. Vão até o porteiro e fazem a tal da moça ser chamada. A amiga do Clark aparece, faz um tremendo auê, animadíssima e entusiasmada e pede sorridente que esperem só um pouquinho, no carro, enquanto ela corre lá e fala com a dona da festa.

Nossos heróis vão para o carro, esperam, resmungam, bocejam e esperam ainda mais. Talvez tenham esperado muito, talvez pouco, mas o fato é que em breve estão ambos dormindo, narcolépticos que são e roncando o suficiente pra os pedestres acharem que o carro estava ligado.

Acordam às 4 da manhã com o som de um candidato a assaltante batendo no vidro, o bar já fechado, o Cachaça com a camisa babada e o Clark com a mão no saco. No mundo do Cachaça, isso se chama “"uma balada que é um sonho" e não é de todo infrequente.


segunda-feira, 14 de agosto de 2006

Cachaça : Ringues de Orégano

Um belo dia o Cachaça vai buscar um “orégano” que tinha encomendado com o Juba. Hoje em dia Juba refere-se à forma do cidadão, como em “Jubarte”. Na época ainda era pelo cabelo estranho.

Chegando no ponto de encontro há um intenso desentendimento em relação ao tamanho do pacotinho. O Juba responde de forma ríspida e o Cachaça se indigna. Quando indignado o Cachaça é um personagem primorosamente divertido, ainda que talvez não para suas vítimas. Ele fala alto, abana os braços como quem está prestes a alçar vôo e ferve de raiva. Imagine que um cruzamento entre um pinguim e um pimentão fosse epilético.

Também um ser de pouca paciência, já tendo recolhido o dinheiro, e possivelmente sem perceber que o Cachaça reajustou o valor, o Juba joga o pacote de orégano dentro do carro, sem dar qualquer satisfação e ainda movendo a cabeça com desdém.

O Cachaça engata a primeira e sai sem responder, ou ainda, sai dizendo – entre ríspido e efervescente: "moLEQUE!" “MOLEQUEeee!”

Anda um pouco, volta, sai do carro, bate a porta e grita: “Moleque!”
Volta pro carro, anda mais uns dois quarteirões, bate na direção, sai do carro quando o farol fecha, chuta o pneu e grita: “Moleque!!”
Essa cena se repete em quase todos os faróis vermelhos até chegar em casa, uns dez quarteirões depois.

Assim que entra em casa toca o interfone:
“Ô Seu Cachaça, tem um moço aqui querendo falar com o senhor”
O Juba arranca o interfone da mão do porteiro e diz:
“Desce aí!!! Desce aí!!!”

O Cachaça decide encarar. Abre a porta, chama o elevador e diz pra si mesmo: “Hm, vou tirar os óculos porque se brigar vai ser um ponto fraco. E custa caro.” Volta pra dentro de casa e deixa os óculos. Chama o elevador de novo.
“Hm, se eu brigar de socos pode chegar a polícia, então é bom ter um documento”
Volta, pega o documento e chama o elevador. E esse processo se repete mais algumas vezes, com o Cachaça colocando uma bermuda, tênis, outro tênis e assim vai, sempre com o mesmo raciocínio street fighter.

Quando o Cachaça finalmente desce, sai do elevador e entrega o relógio pro porteiro, encontra o Juba arfando na portaria. Arfando porque veio correndo emputecido atrás do carro do Cachaça, mas sempre que chegava perto, o Cachaça, sem se dar conta, andava de novo com o carro. Nessa época o Juba ainda conseguia correr.

Eles so olham durante alguns segundos, se examinando pra briga, dando peitadas como dois galinhos de briga. Aí o Juba diz: “Pô Cachá, não quero brigar...
E eles sobem pra casa do Cachça pra queimar orégano.
Enquanto preparava o cigarrinho, o Cachaça diz: esse aqui eu comprei recentemente, mas veio super miguelado, é foda.

E o Juba começa a destruir toda a sala, começando com as louças da mãe do Cachaça, que acorda no dia seguinte em uma banheira cheia de gelo, com um galo na cabeça, sem saber se falta um rim, jóias ou as pilhas do controle remoto.

sábado, 12 de agosto de 2006

Escritório Novo

Ainda vazio. Essa mudança deu um trabalho da Porra!!


quinta-feira, 10 de agosto de 2006

E o que era a vida?

A vida estava espalhada pelo chão

Quando limpei a navalha

Tubulações de hemácias

Me pegaram pela mão


segunda-feira, 7 de agosto de 2006

dois micro contos

Once there was a brave warrior, and then he got killed.
The adventures of the unskilled are very short.

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E seu nariz sangrava. Gritou e tentou lembrar como diabos foi parar lá. Dez anos antes, a memória vinha envolta em brumas, ele estava numa caverna estranha onde achou uma estranha Televisão-Máquina do tempo. Quando ligou a tv viu a si mesmo na tela, com o nariz sangrando.

domingo, 6 de agosto de 2006

Todos os Dias são Rosas de Triviais Misérias

Retorno insonoro de uma nau em sonhos

essa tua passagem pelo entardecer das coisas

singrar arfante

navegar encoberto dos anos que não são

tu, naufrágio doce indolente

destroço egresso de uma tarde de criança
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Um belo poema de autoria do peripatético Jota Erre, assim como a frase do título.
Jr também era bom em traduzir sonetos de shakespeare.
É capaz que de um modo geral o talento acometa as almas mais perturbadas...


sexta-feira, 4 de agosto de 2006

Cachaça: Aventuras na Suruba

Queria começar a narrar aqui algumas aventuras de um personagem completamente fictício, que chamaremos de “Cachaça”. O Cachaça é o personagem mais legal que eu jamais inventei. Ele tem esse apelido porque quando criança ele tinha cara de Cearense. Ou a mãe dele parecia cana-de-açúcar, chupava cana, sei lá. Mas apesar do nome o Cachaça não bebe, ainda que fume como um alcólatra.

E para o deleite de todos nós, o Cachaça virou... Surubeiro. Sim, você não leu errado. Não disse SUBurbeiro, que afinal é apenas o que ele faz nas horas vagas, quando arrasta desconhecidas em pleno ponto de ônibus. Surubeiro.

Semanalmente, nosso personagem vai até uma suruba e aí swinga. Swing é como quadrilha de festa junina, só que com todo mundo nu. O Cachaça sempre leva uma “menininha” (homem não pode entrar sozinho), swinga pra lá swinga pra cá depois põe a menina pra dançar na pista e vai passear, usando apenas uma calça cargo, carteira de uma lado camisinhas do outro, em busca de um amontoado de gente se lambendo para entrar na almôndega. Quando descobri isso fiquei preocupado, já que conheço bem meus personagens.

Parece que tem dois grandes centros de suruba por aqui, Nefrite e Marra&Cash. Esses lugares geram, além de historias pros netos, situações peculiares, como o namorado da mina swingada berrando que o Cachaça gozou na calça dele, e o Cachá, temendo uma surra, dizendo "estou de camisinha, olhe!"

Como ele vai se superar agora?
Impossível. Depois disso só sobram como novidade a monogamia e o celibato...

Mas o Cachaça se supera sempre! Inventei pra ele uns amigos que fazem o circuito “carna” – Carna-Valinhos, Carna-Pirapora e todos os outros carnavais fora de época. São baladas onde a cidade inteira se reúne e compartilha germes, ao som de músicas horríveis, dentre as mais horrorosas do planeta. Imagine todos eles fazendo, juntos, dancinhas de coreografia com “Sou faraó, Cadê minha mãe” e você começa a entender a cena. Cada um beija umas vinte mulheres (na verdade todos beijam as mesmas vinte, assim como todos os outros). Democráticos, eles têm vários lemas, como “mulher feia também merece”. Basta sair no sol e fazer sombra, cair na água e fazer tchibum, usar saia e não ser padre, enfim basta ser ser mulher . Os critérios são duvidosos, inexistentes mesmo. Como o Cachaça não bebe ele é menos sucetível aos engodos da travecaiada, mas o mesmo já não acontece com seus comparsas, que vivem em enrascadas. Pontos são somados por minas beijadas, "gorfo", brigar com a mina e, mais raramente, sexo. No fim da noite o mais pegador vence, levando de prêmio um creme pra sapinho e muitos chutes na canela. E o que eles vão fazer, sob a liderança do Cachaça?
Carna-Suécia!!!!!!!

Sim, em sua próxima aventura eles irão todos pra Suécia, país do tamanho de Higienópolis, onde o tédio é tão grande que só existem três coisas pra fazer, sexo, filme pornô e suicídio e não necessariamente nessa ordem. Já imagino eles saindo do Brasil, com a mala cheia de CDs de axé, auxiliados pelo fato de que ninguém vai entender as letras. Vão pedir pra tocar isso "só um pouquinho, vai" em todos os bares por onde passarem. Vão caprichar no “sou faraó, cadê minha mãe” e assim se tornar uma unidade carnavalesca móvel, com esperanças de angariar as entediadas suequinhas no seu trem alegre. Culturalmente é uma aposta arriscada: nos carnas beija-se muito e come-se pouco, enquanto na Suécia é o contrário e as mulheres só beijam na ultima hora, momentos antes de dar. Isso pode gerar maus-entendidos (ou bons, se você vai escrever sobre eles). Tudo indica que eles devem se divertir...
Mas minha impressão é que veremos uma drástica subida nas taxas de suicídio.

quinta-feira, 3 de agosto de 2006

Felinos Literatos

Na porta da minha geladeira tem dois kits de palavras magnéticas, um que eu não sei de que é e um de insultos shakespeareanos. Ganhei isso há muitos anos, de uma amiga alemã. A grande maioria das palavras já se perdeu. Outro dia eu estava puto porque a faxineira desarruma minhas frases. Descobri que não é ela.

São os Gatos!!

Mesmo com as palavras lá no topo, eles saltam, arrancam e mastigam palavras. Talvez eles estejam tentando se comunicar. "Arruma mais verbos papai!!".

Ontem eu achei essa aqui na vasilha de comida deles. "Love".
E tinha outra palavra grudada magneticamente no verso dessa. "Not".

Esses gatos me espantam profundamente às vezes.


Gone

Sonhei que estava em umas ruas parecidas com a cidade velha em Cannes. Subia uma ladeira com Paul Berry, ao lado de um muro de pedra com heras. Pus a mão no ombro dele e éramos amigos, ainda ou de novo. Estava muito feliz de revê-lo. No sonho já não importava que ele mandou devolver pra loja, sem razão aparente ou explicação, o presente que eu mandei pelo nascimento do bebê dele. No fim da ladeira tinha uma casa branca com vigas estilo pueblo e uma enorme treliça de madeira. Nós tínhamos que escalar nela pra chegar em algum lugar. Quando já estávamos muito alto percebemos que a treliça estava toda podre. Pensamos em descer e ela começa a se desmanchar. Ele cai lá de cima, em um pequeno jardim e quebra uma perna, solta um grito e depois fica quieto. Acho que o grito era porque caiu em cima de algum objeto (talvez meu presente?) Eu olho lá do alto temendo cair a qualquer momento enquanto a treliça apodrece mais e mais e se desfaz lentamente nas minhas mãos...

O Bar Búlgaro

Acabei de saber que meu adorado bar búlgaro fechou.
Onde nosso camarada levou toco da Famke Janssen.
Onde eu tomova cerveja búlgara, cercado de búlgaras que ao contrário do que diz a piada são lindas. Onde o DJ era o cara do Gogol Bordello.
Em homenagem ao falecido bar, aqui um videoclip gravado lá, do próprio Gogol Bordello. Som muito duca. Assista no Site da MAdame: Start Wearing Purple for Me Now

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quarta-feira, 2 de agosto de 2006

Cigaretore

E não seria tudo absolutamente inútil?

Essa é uma péssima maneira de começar a manhã, ainda que ótima pra começar a estória. Os humores matinais tenebrosos são um tema recorrente da humanidade, ao menos da parte que faço parte.

Saiu da cama tropeçando, desesperado por um cigarro. Pega o maço, que está vazio. Mas arrá, espertão, abre a gaveta do criado-mudo e pega o segundo maço. Também vazio. Mau sinal e ainda por cima deja vu.

Vai pra cozinha e encontra a faxineira comendo granola em um copo de vinho. Era o único copo limpo, disse ela. Há algo de errado aqui. O cereal parece bom. Você tem um cigarro, ele pergunta. Não, parei. BOM, espero que a granola não tenha acabado então. Non, não acabou, mas o leite sim, quer água?

É claro que só então ele percebe o quão atrasado está. Merda, a reunião! Veste-se muito rápido e corre pro elevador. A faxineira está segurando a porta. Ele agradece, mas o copo de vinho vai estar sujo e na pia quando ele voltar. Na verdade ele não sabe mais exatamente o que ela faz ou deveria fazer.

Ele pega um taxi, cincão a mais se vc correr pra cacete, aliás não teria um cigarro, teria? Ah, tudo bem, já imaginava.

terça-feira, 1 de agosto de 2006

Nem me lembre!

“Nem me lembre!” disse Jambão, com a boca cheia de banana, olhando torto pro colega. “Nem me lembre”, repetiu, mastigando e brandindo a fruta ameaçadoramente. “Onde é que já se viu”? Jambão estava muito puto.

O Outro olha com nojo enquanto o colega mastiga de boca aberta. Nada contra os hábitos saudáveis, mas desde o dia em que sua esposa, com um estranho olhar, achou no seu cabelo um pedaço semi-mastigado, grudento, que talvez fosse banana, talvez jaca... Disso ele não lembrava. E sem a fruta exata não tinha coragem de dar o troco. Mas desde então tinha a fruta no cabelo atravessada na garganta. O que a esposa teria pensado? Ela não disse. Aliás andava bem quieta. Teria um amante?

Jambão continua seu discurso e um fiapo da banana voa pro chão. O Outro acompanha a trajetória com o olho e tem um arrepio de raiva. Pensava seriamente em soterrar aquela banana nariz adentro. Pof! Nos dias que Jambão estava especialmente agitado e pedaços recém-mordidos voavam como mísseis, o Outro sonhava com lindas marretas distorcendo exageradamente a idéia, a banana e a cara do colega.

Esse dia tinha sido pesado e lento. De início, Jambão quase não teve forças pra sair da cama, essa terrível batalha diária. Depois de pensar em todas as doenças disponíveis, foi até o espelho e disse, beatificado de mau-humor matinal, "Todo dia a mesma coisa". Mas não era verdade, mesmo que Jambão não visse diferença. Aliás Jambão poderia acordar com um rosto diferente a cada manhã e ainda assim não perceberia, nem se fosse o rosto do papa. E há quem diga que Jambão de fato acorda cada dia com um rosto diferente. Tem várias teorias sobre isso, desde rostos cultivados em laboratório, rohypnol e pessoas acordando sem rosto numa pia cheia de gelo até falta de banho mesmo. Ninguém nunca foi capaz de provar nada.

Ainda menos capaz de provar alguma coisa, qualquer coisa, estava o colega com sua esposa, na primeira (e última!) vez em que aceitaram um convite pra jantar daquele homem estranho. "Vamos lá em casa, eu vou preparar uma “comitchinha” que você vai ver só", disse Jambão ao mesmo tempo que beliscava a orelha e fazia um sinal de ok. Ou talvez indicasse que o prato do dia seria orelha, suspeita que invadiu indelevelmente o Outro desde esse convite.

A sorte do casal, para o desespero de anfitrião do pobre Jambão, é que a comida pegou fogo, juntamente com a cozinha, a área de serviço, as samambaias e a cortina da vizinha de cima, já que as chamas lamberam a parede de fora o suficiente pra cortina ficar metade queimada e o gato cair ali do quinto andar, em pé. Acabaram todos comendo pizza, menos o gato, que estava morto.

Mas o Outro encafifou. Ele conhecia bem aquele cheiro de quando um pedaço de carne cai na brasa do churrasco. E era esse mesmo cheiro que parecia vir do fogão. E o que será isso, encafifava, alheio à conclusão que mesmo se tinha carne na assadeira isso não significa absolutamente nada, nem orelhas.

Ninguém sabia muito sobre Jambão. E nem sobre o Outro, se é que isso importa. Os dois dividem uma sala no departamento mais obscuro da repartição. Não é apenas obscuro, mas também o único com porta de chumbo e válvulas de segurança. Quando os outros colegas tentam fazer visitinha, ou seja, matar um pouco de trabalho, são barrados pelo scanner de retina. Por alguma razão eles continuam sempre tentando. Alguns são eventualmente fritados pelo laser.

Os dois achavam graça nesses episódios, e trocavam sorrisos. Esse pequeno prazer era uma das poucas coisas que tinham em comum além da obscuridade. Mas eles não tinham a mais remota idéia do porquê daquele aparato todo. Uma vez o braço mecânico roubou o sanduíche de galinha do Outro, que tentou por horas e inutilmente recuperá-lo. Outra vez, roubou uma das bananas de Jambão, mas o braço devolveu assim que se deu conta. "Braço estúpido fica protegendo esse porco", o Outro pensava.

Jambão morava só. E quando a mulher vinha buscar o Outro no fim do expediente, ele achava gozado. Observava com uma mão no quadril e um sorriso estranho. Jambão ainda era do tipo que achava as coisas gozadas. Aliás, a mulher conseguia passar direto pelo sensor de retina. Jambão achava que ela deveria ter um papel maior no grande esquema das coisas, que ele trazia no bolso.

Depois disso resolveu convidar os dois pra um jantar em sua casa, como bom colega, pensava. Na entrada do apartamento, além de um elevador quebrado e algumas baratas, tinha uma planta com bundas de vagalume, que segundo Jambão, servia pra sensibilizar as pessoas contra a extinção do natal. Jambão achava o natal uma boa oportunidade. A verdade é que toda vez que ele vinha com uma idéia supimpa ou uma boa oportunidade a noite terminava na cadeia. Mas isso não fazia a menor diferença pra Jambão. A mente não se prende com grades e sim com vidro, ele dizia sem que ninguém tivesse a mais vaga idéia do que ele estava falando. As teorias dele eram todas nomeadas com trocadilhos incompreensíveis.

O Outro tinha uma filha que se chamava Passa. Também ninguém sabia a idade dela. Ninguém aparenta saber nada. Essa história se passa na ignorância. O Jambão a conheceu numa tarde de sol em que ela foi no escritório visitar o pai. Que safado esse Outro, pensou, olha que gatinha. Então o Outro disse “Jambão, apresento minha filha, Passa. Passa, grunf, Jambão.”

E é claro que o Jambão se apaixonou. Ou pelo menos foi o que todos pensaram, inclusive o próprio. Ele estava mais confuso que qualquer outra coisa, tanto quanto o fato de que a frase anterior não foi apagada por puro pânico. "O que está acontecendo, meu deus", uivava Jambão, abanando entusiasticamente os braços.

Quando ninguém já entendia mais nada, Theo Exmachina, o deus da máquina desce do ônibus que dirigia e diz "mas quer sair da rua, o meus senhores? PQP!!"

O Outro vai levar a filha em casa e Jambão tenta se concentrar no trabalho. Não conseguia. Ficava se perguntando se a guria passaria pela grande porta de aço... Então o Outro volta pro escritório (era perto) e vai logo dizendo, "Nada de idéias com a minha filha, Jambão. Nada de idéias!" E pensa ainda “ela pode dar pra quem quiser. Menos pra você.”

“Como assim, dar pra quem quiser?”, o Jambão pergunta. O Outro não sabe se os seus pensamentos foram lidos por Jambão, (será?) ou falados em voz alta por si mesmo, que afinal andava caducando. E o Jambão ficando nervoso e falando de boca cheia: “Pvalaí,daoq?e porgnhomque pra miinhão? Pourramg!”

Pra não incomodar sua recém-chegada úlcera, o Outro resolveu sair mais cedo nesse dia e foi pra casa. Não tinha ninguém lá. Deitou na cama e dormiu.

Perto do fim da tarde, Passa recebe um telefonema. É sua mãe, que diz pra ela ir buscar o pai no escritório, já ela estava com cólicas e pretendia ir pra casa mais cedo. Passa adorou a idéia de voltar ao escritório e nem falou com o guarda na entrada, foi direto ao elevador. O Jambão estava na sala do cafezinho, e quando viu Passa na ante-sala, chegando perto do scanner, engasgou tão profundamente que a banana saiu pelo nariz.

Nesse exato momento, o Outro dormia. E talvez por coincidência, tinha sonhos felizes, coisa que não tinha há tempos. Então a mulher chega em casa, já tomada de cólicas, vai pro quarto e grita, desesperada, “Meu deus, tem um alguém na minha cama!! O que o Outro vai dizer quando chegar!” Ela se aproxima sorrateiramente e dá-lhe uma sapatada tão forte na testa que a cama toda se ensangüenta, o Outro acorda vendo estrelas e corre confuso em direção ao escritório, caminho que seu corpo faz de cor.

"Sua filha Passa está morta, desintegrada pelos lasers da porta de aço", informam os guardas, de acordo com a nota deixada por Jambão. A porta parece estar lacrada agora, algo com o código vermelho de segurança, dizem. O Outro encosta a cabeça na porta e se prepara pra chorar, mas ao invés de chorar ele corre de volta pra casa e conta tudo pra mulher, que resolve ir averiguar essa história direitinho, chega no escritório, diz “lacrada o caralho, lacrada o caralho!!” e fica chutando a porta até que Jambão abre, todo despenteado. A mulher olha por trás dele e vê a filha vestindo o sutiã. Então corre de volta pra casa pra contar tudo pro marido, que a essas alturas está gangrenando a cabeça, por conta de um torniquete pra parar o sangramento na testa. Talvez precise amputar.

Nisso Passa e Jambão saem da sala, olham pra porta de ferro, e ele, que aquele dia estava com a cara do Rett Buttler, pergunta, “Blé, de quem é esse sangue aqui?” “Meu não é”, diz a menina com naturalidade, sem saber o que a espera pro jantar.