sábado, 1 de julho de 2006

Les Miserables

Na mesma Ilha de Outra-Ilha-Perto-da-Ilha-que-tem-notre-dame-sobre-o sena, me deparo com essa cena, que a foto não mostra porque todas as minhas fotos são tiradas com o celular e a câmera, obviamente, é uma merda pra qualquer coisa menos thumbnails. Estou na ponte, uma ponte só de pietons, que é o francês pra desocupado. Atrás de mim tinha uns caras tocando sax, já fazendo um clima. Nessa rampinha aí da foto tinha um mendigo francês, que vamos chamar de Vitor Hugo.

Os mendigos franceses são uns folgados beirando o inacreditável. Imagina toda a atitude de um francês, e que o cara tenha sido obrigado a assistir Os Miseráveis, o musical (sim, o musical. Confesso que odeio musicais. Os caras ficam cantando "agoooora vouuuuu no banheeeeeeeirrooooooooo". Odeio musicais desde criança, quando os desenhos subitamente passavam para "e agora siga a fucking bolinha luminosa"), e que esse cara tenha também toda a raiva e rancor de um legítimo destituído, e nunca será pouco reforçar esse ponto, tenha toda a atitude de um típico francês... e aí você tem o uber-mendigo, que excede em folga todos os seus pares mundiais.

Mas o Vitor Hugo não parecia folgado, não. Tinha um cachorrinho pequeno, manchado de branco e preto, que vamos chamar de manchinha. E o manchinha ensaiava de entrar na água e voltava. E Vitor Hugo dizia, vai lá manchinha, vai lá!! L'eau!!L'eau!!L'eau!! O manchinha olhava pra ele, botava as patinhas na água e voltava saltitando, alegre, feliz, abanando ativamente o rabinho, uma graça E o manchinha corria e entrava um pouco na água e voltava alegre como uma criança que diz olha o que eu fiz, eu fui lá, eu fui lá .

Achei a cena linda e bucólica, uma lição de companheirismo, de sorrir ante a miséria e tal. Depois me ocorreu que o Vitor Hugo estava, possivelmente, apenas lavando o jantar.


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